SANTA CLARA, CLAREAI !!!

“Zeca, filho de César e Ilana,  atira um ovo pela janela”.

Cena de “Caminho das Índias” , novela da Globo.
Há horas na vida em que se faz necessário tomar atitudes pouco simpáticas, alertar para certas verdades, porque não se fazem omeletes sem quebrar ovos.
E por falar em quebrar ovos: seria politicamente correto arrebentar ovos uns nos outros para se comemorar o dia do aniversário de alguém ?
Apesar de sabidamente ser o termo “politicamente correto” um dos bordões mais controvertidos dos nossos tempos, é preciso abrir a discussão no sentido de se chegar a uma posição quanto a ser correto, ou não, o desperdício de comida num país em que tantos ainda lutam para conseguir uma mísera mistura que possa tornar mais palatável o ressecado arroz de cada dia.
Por exemplo. Penso que os pais deveriam questionar com seus filhos se não deveríamos substituir o arroz atirado nos noivos por areia, terra, pó de mico ou substituir os ovos que são atirados nos aniversariantes por pó de arroz ou tinta.
Ambos os casos, é importante frisar, ocasionariam uma sujeira danada para alguém que, com razão, muito aborrecidamente, seria encarregado de limpá-la. Haveria o risco de ser atingida uma pessoa que não tivesse nada a ver com a comemoração, ocorrendo, então, uma possível discussão e, consecutivamente, troca de ofensas e agressões físicas.  Também, na busca de atingir os participantes da “brincadeira”, ou de fugir do banho de gemas e claras, alguém poderia vir a ser atropelado por estar atravessando a rua sem os devidos cuidados.
Enfim , são muitas as variáveis possíveis estabelecidas rigidamente pela Lei de Murphi.
Como responsável pela disciplina de um colégio particular, resolvi tomar minhas precauções para evitar os acidentes “ovulares” acima e também garantir o emprego do nosso segurança que, com absoluta certeza, será o primeiro a ser responsabilizado, caso algo aconteça nesse sentido e, então, sugeri uma pena alternativa aos meus jovens educandos: cada um deveria trazer uma dúzia de ovos para serem doados à uma instituição beneficente na presença deles.
Dadas aos alunos, e aprovadas, quase que por unanimidade, as devidas justificativas para a tomada de decisão, fui surpreendido pela reação de alguns pais.
Um deles disse que não concordava com a punição “porque a filha havia atirado somente um ovo” .
Outro, fiquei sabendo, disse que pensava da mesma forma que eu, mas havia aberto exceção somente por ser o dia do aniversário do filho.
Um outro entrou em contato comigo para elogiar a medida e dizer que havia reforçado o discurso feito por mim e que estava mandando o dinheiro para compra dos ovos.
E, finalmente, outro fez questão de que o filho utilizasse o dinheiro do próprio lanche, fosse até o supermercado e comprasse os ovos a serem doados.
No frigir dos ovos: cada cabeça uma sentença.
Voltei para casa e fiz uma simpatia que minha sogra, a Dona Olga, me ensinou, para evitar o temporal e clarear o tempo: peguei um ovo fresco, risquei nele, com cinzas, uma cruz do seu lado mais largo, pedi para Santa Clara clarear a mente de todos nós na luta pela educação de nossos jovens, deixei o ovo no jardim, entre as flores, e rezei um Pai-Nosso e uma Ave Maria em agradecimento.
O que mais poderia fazer ?

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

 
COMENTÁRIOS SOBRE O ARTIGO ACIMA:
Caro Tórtoro:
respondendo à indagação do final de seu artigo.
Você não precisa fazer mais nada, além de nos brindar com seus escritos semanais e a luta permanente pelo desenvolvimento educacional de nossos jovens. Como sempre você faz, tudo às CLARAS como uma GEMA preciosa (desculpe o trocadilho oval).

Abraços,
Corauci Sobrinho

 

 

Os artigos do Tórtoro estão cada vez mais pertinentes e bem escritos.
Ele vive dia a dia os problemas com os alunos, tentando educá-los e orientá-los.
O texto “Santa Clara, clareai”  tem inclusive alusões linguísticas e a costumes populares.
Tórtoro continua, apesar dos inúmeros moinhos de vento que enfrenta, a ser um eterno Quixote.
Que deus o proteja!

 

Ely Vieitez Lisboa
Escritora da ARL

 
Tórtoro, a sua “punição” foi louvável e educativa. é preocupante a entrega de poderes governativos e diretivos, num futuro próximo, a jovens despreparados, não só academicamente, mas também sem estrutura disciplinar e de respeitabilidade, salvo honrosas exceções. é evidente que não quero defender escrupulosamente o rigor da nossa educação, mas convenhamos que se foi do “oito para o oitenta”. acho que quase todos entenderão o que se pretende dizer: da grande disciplina e rigor de antigamente transitou-se para a quase completa anarquia. os pais não se fazem respeitar e os filhos convivem na maior irresponsabilidade. confunde-se muito “disciplina” com “imposição ditatorial”… e não é por aí.quem é espírita, conhece as condições impostas por “Emmanuel”, o mentor espiritual de Chico Xavier, quando este indagou o que deveria fazer, ao chamado para trabalhar com a espiritualidade. a resposta foi peremptória: disciplina, disciplina, disciplina… cada um tire as suas próprias conclusões…
Alberto Adriano Maçorano Cardoso
Escritor

 

34-ovos-santa-clara

ARTIGOS, EDUCAÇÃO