“Art. 171 – Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”
Código Penal
Segundo os entendidos no assunto, existem dois tipos de vampiros: os espirituais e os clássicos.
Os vampiros clássicos/lendários são mortos vivos que se levantam à noite, de seus túmulos, para sugar o sangue dos vivos; e os vampiros espirituais são desencarnados que se aproveitam das fraquezas morais de suas vítimas para sugarem delas suas energias vitais.
Recentemente, meus pais, idosos, foram vítimas de um terceiro tipo de vampiro: os vampiros 171, encarnados e muito reais.
Esses vampiros são marginais que saem à luz do dia (ao contrário dos lendários), bem vestidos, com aparência acima de qualquer suspeita, e que se aproveitam das fraquezas naturais que acompanham a velhice.
Assim como os vampiros espirituais e lendários, os vampiros 171 só entram na residência de alguém se forem convidados pelo dono da casa, ou seja, só podem obter sintonia com o vampirizado e levar seus bens se a pessoa abrir as portas de sua residência.
Foi o que ocorreu com meu ingênuo pai, que sempre manteve muitas fechaduras e cadeados em portas e janelas, e é exaustivamente orientado para não abrir portas para estranhos, quaisquer que sejam eles, e quaisquer que sejam os argumentos utilizados. NO entanto, um falso funcionário da CPFL, crachá exposto no peito, convenceu-o de que a casa corria sério e imediato risco de incêndio, caso uma alteração não fosse feita, com urgência, no relógio medidor de luz.
Autorizada sua entrada, logo apareceu um segundo “funcionário” que auxiliava o primeiro.
Aberto o relógio de luz, e devidamente desmontado, foi apresentada ao meu pai uma peça com defeito, e estipulado o preço pelos serviços prestados.
Enquanto um ligava o chuveiro, já dentro da residência, para verificar se “estava tudo em ordem”, o outro recebia o pagamento e tomava conhecimento do local onde meu velho pai guardava suas parcas economias.
Chamado para conferir o “serviço” na caixa externa de luz, meu pai deixou minha mãe — sozinha, adoentada, e presa a uma cama — com o “auxiliar”, que não teve nenhum trabalho para se apossar de dinheiro e documentos, e fugir Jardim Paulista afora.
Os documentos, poucos minutos depois, foram encontrados por uma dentista, bem longe do local do roubo.
A ação policial foi imediata, mas nada puderam fazer.
Infelizmente, esses vampiros 171 farão novas vítimas porque são hábeis, ardilosos, convincentes, aproximam-se das pessoas como se amigos fossem, mas acabam vampirizando a confiança de cada um de nós, a confiança dos outros em nós, sem que tenhamos verdadeira culpa.
E os idosos são as vítimas mais visadas, cujo retrato, na maioria das vezes, é o criado por Cecília Meireles: “Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: Em que espelho ficou perdida a minha face?”.
Enfim, todo cuidado será sempre pouco porque os vampiros desencarnados são mortos-vivos, e os vampiros 171, encarnados, são párias da sociedade, verdadeiros vivos-mortos.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
COMENTÁRIOS SOBRE O ARTIGO ACIMA:
Caro amigo Antônio, ao ler esse seu artigo fiquei estarrecido , como a gente fica impotente diante desses canalhas, assaltaram os meus velhos e diletos amigos Cláudio e Terezinha, impotentes ante a astúcia desses miseráveis. Há cerca de 35 anos atrás meus velhos também foram alvos dos mantenedores dos botijões de gás, com a história de que o regulador precisava ser trocado. Á noite, embora tendo uma prole de sete filhos, noras e netos e nenhum presente no momento, eles entraram e nada levaram porque meus pais nada tinham, mas correram outros riscos evidentes nessas situações. Fico triste e aborrecido e incapacitado de dar qualquer apoio. Um abraço Oswaldo |