“Faça uma lista de grandes amigos / Quem você mais via há dez anos atrás / Quantos você ainda vê todo dia / Quantos você já não encontra mais…”
Oswaldo Montenegro
Já que não vou mais ao cemitério depois do dia em que presenciei a exumação de Veiga Miranda — nada havia dele no túmulo aberto, a não ser pó, uma dentadura, as alças e um crucifixo do caixão — todo Dia de Finados faço uma lista do que denomino meus mortos: pessoas que não passaram em branco pela minha vida.
Li, em algum lugar, que um homem só morre de verdade quando ninguém se lembra mais dele: e eu tenho minha lista particular com alguns “imortais”.
Mais recentes: Claudio Tórtoro ( meu pai), Elizete Sachs, Antonio Cese (vice-presidente do Regatas), Neyde Duarte Peixoto e Emma Miranda(Colégio Santa Úrsula), Zéquinha (e suas cinzas nas águas do rio Pardo – Regatas)…
Durante toda minha vida: Rubem Cione, João Caetano de Menezes, Luiz Carlos Raya, Alfredo Palermo, Nilva Mariani e Wilson Rovéri (colegas de Academia Ribeirãopretana de Letras) , Dr. Jubayr (jornal O Diário), Miltão (ex-aluno e fotógrafo), Irmã Margarida e Madre Gisela (Irmãs Ursulinas), meu tio Otávio e João Pedro Castroviejo ( da ALARP – Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto), Márcio De La Corte, Jerônimo Feltre (meus professores no Otoniel Mota).
Em 2012 minha lista foi acrescida do nome de um imortal da fotografia ribeirãopretana: João Rossato.
Existem, também, alguns imortais que não cheguei a conhecer pessoalmente, mas que, por algum motivo, sempre fazem parte de minhas lembranças, quando o assunto é morte.
Os flamboyants, por exemplo, me fazem lembrar Herbênia ( do grupo literário Flamboyant), uma escritora que, aprovada para ser membro da ARL, faleceu antes da posse.
Crianças à beira da piscina me fazem lembrar a trágica perda do filho de um grande amigo.
A morte de qualquer jovem em acidente me remete a uma ex-aluna que perdeu a vida ao lado dos muros da antiga cervejaria Antarctica e ao filho de uma grande amiga e diretora de colégio.
Suicídios me fazem lembrar um ex-aluno do Colégio Metodista, nos idos dos anos setenta.
A madrugadas de noites frias de inverno me transportam para as ruas vazias em busca de um médico para atestar o falecimento da quase centenária avó de minha esposa.
Janelas embaçadas, detrás das quais vislumbro alguém, me trazem à lembrança de uma tia assassinada de forma brutal.
São associações inevitáveis no dia a dia , mas que, especialmente no Dia de Finados, tomam proporções maiores e me envolvem numa explosão de lembranças, dor, angústia, e sensação de perda irreparável.
Mas, nesse dia especial de lembranças dos mortos, fico me lembrando de alguns amigos que tenho deixado pelo caminho, que não sei se estão vivos ou mortos — por falta de comunicação — mesmo nesses nossos tempos em que o mundo parece tão pequeno e as pessoas tão próximas com o uso da internet: é a incômoda lista dos que não encontro mais.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO