EXPOSIÇÃO E LANÇAMENTO DO LIVRO DE FOTOS E POEMAS : ARQUITETURA DO PASSADO – UM OLHAR SOBRE RIBEIRÃO

LANÇAMENTO  DE “UM OLHAR SOBRE RIBEIRÃO”

 

Há alguns anos, em reuniões do Conselho Municipal da Cultura, tive a felicidade de conhecer a fotógrafa Elza Rossato.

Persistente , determinada, competente — mas acima de tudo humilde—, líder do grupo “Amigos da Fotografia” , Elza sempre me mostrava suas fotos, e eu admirava,  principalmente,  aquelas em branco e preto, e sempre dizia : quando vejo suas fotos , fico com vontade de escrever poemas.

E não foi como grata surpresa que recebi dela e de seu grupo o convite para escrever textos poéticos sobre as fotos da exposição “ Arquitetura do Passado”,  com o tema  “Um olhar sobre Ribeirão” , apresentada ao público durante a 4ª. Feira Nacional do Livro, em  2004.

Foi um exercício prazeroso  ver espaços ( a serem preservados)  de minha cidade natal, pelos olhos de diversos e competentes fotógrafos, orientados pelo olhar não menos aguçado do meu amigo Cláudio Bauso.

Esse tríplice olhar — do fotógrafo, do arquiteto e do poeta — penso haver resultado uma experiência gratificante para cada um que teve o privilégio de participar do processo de criação desse evento que reuniu  membros de áreas distintas do Conselho Municipal da Cultura.

Essa exposição que  continua disponível  aos internautas no site www.movimentodasartes.com.br tem agora sua versão impressa graças à sensibilidade e visão de cidadania do  meu grande amigo , o empresário Vilibaldo Faustino Júnior, sempre atento e disposto a colaborar com as causas maiores da cultura local: nesse  caso específico, o registro fotográfico de imóveis que deverão ser preservados para o enriquecimento do acervo público ribeirãopretano.

O lançamento foi no dia 10 de setembro, 20 horas, no Palace Hotel, e fez parte dos eventos da 5ª. Feira Nacional do Livro.

A abertura exposição em BP ; que também apresentou fotos coloridas do Cine Foto Clube,  e o lançamento do livro ;  contaram com a presença do Secretário Municipal  da Cultura de Ribeirão Preto, Vicente Seixas, representando o Prefeito Municipal , e do Presidente da Fundação Feira do Livro,  Joaquim Alves Rezende.

Nos seus primeiros dias a exposição de fotos foi visitada pelo Secretário Estadual da Cultura do Estado de São Paulo e pelo Prefeito Municipal, Dr Welson Gasparini, acompanhado pela  Primeira Dama, Sra . Auristela Gasparini.

Posso garantir que essa experiência foi marcante para mim, e permitiu à ARL- Academia Ribeirãopretana de Letras, da qual sou presidente, a possibilidade de deixar para a posteridade sua marca como instituição  importante na defesa da preservação do patrimônio histórico e cultural de Ribeirão Preto. 

 

 

 

 

UM OLHAR SOBRE RIBEIRÃO

Waldomiro w. Peixoto (*)

Acabei de ler e ver o livro “Um Olhar sobre Ribeirão”, edição da Vilimpress, 2005, do qual Antônio Carlos Tórtoro, poeta e Presidente da ARL – Academia Ribeirãopretana de Letras, é co-autor. Os outros co-autores são fotógrafos, o que faz deste pequeno livro uma obra coletiva singular e de grande valor cultural. 

Como prefácio, o livro traz cinco textos, um do poeta Tórtoro, os outros de Welson Gasparini, prefeito municipal, de Vicente Seixas, secretário da cultura, de Vilibaldo Faustino Júnior, o editor, e de João Rossato, presidente do Grupo Amigos da Fotografia, que sintetizam bem a importância da obra. 

É uma obra simples e ao mesmo tempo pretensiosa porque tem, em sua essência, a intenção de preservar alma da cidade através de fotos profundamente humanizadas, com forte presença do homem em seu subtexto, e de poemas sintéticos, abertos e sugestivos. E consegue seu intento, porque o coração de Ribeirão está lá, pulsando, gritando aos nossos olhos com riqueza de imagens e sussurrando em nossos ouvidos através da poesia sintética e forte de Tórtoro. 

A preservação da memória pode até ser o pretexto (pré-texto) e a presença e ausência de cores – por meio da eficaz técnica do branco e preto, do jogo de luz e sombra – o texto. Mas o homem, sua essência, suas dores e solidão, sua história, sua ânsia de passado e futuro são o subtexto, o que subjaz por trás de paredes, janelas, pilastras, arabescos, gradis, sob tetos e telhados que ora resistem, ora se mostram em ruínas, como insinuam os poemas.  

O passado que sustenta, que apóia, que dá vida e sentido à cidade está evidente no conjunto da obra. É um forte apelo à indiferença de muitos de seus filhos. Está vivo, vivíssimo, latente, pulsante em todo o trabalho, com o progresso apenas insinuado em um ou outro registro, com se fraco fosse quando confrontado com a presença histórica do homem, esquadrinhada e entranhada nas paredes, nas plantas e nos fios, estranha e casual simbiose com a geometria da urbanização, a impor a relação caótica entre homem e meio. Fotos e poemas revelam o paradoxo do homem nessa relação caótica: destruir e recriar.  

A forte presença do homem nas fotografias é alinhavada e sugerida pelos poemas abertos, como a dizer para o observador / leitor “é por aqui, mas também pode ser por ali, você decide”, dando-lhe alternativas de subtexto, dotado este de vários níveis de leitura. 

Entre todos os poemas, destacam-se  A Boca, Luzes e Mosaico, pela agudeza e alto poder de sugerir tramas e crises existenciais. No primeiro há um forte sentimento de humanização que revela alegria e dor, como se a cidade fosse mera espectadora da indiferença de seus filhos. Essa renitência de acreditar que os tempos vindouros possam ser melhores, está presente no segundo poema, e o jogo de luz e sombras da fotografia, revelado também no poema, sugere o conflito do homem que sofre, mas não abandona seu posto de guardião da esperança. No terceiro, há tramas sugeridas do jogo político, pois a CETERP é uma espécie de metonímia (alguns preferirão sinédoque) da política brasileira nas duas últimas décadas, mostrando um novo jeito de fazer política e economia no Brasil servindo-se do patrimônio público. Como diz Gasparini “um texto sibilino” sugestivo e revelador das entranhas do poder público, com forte teor de bastidores. 

A qualidade de impressão do pequeno livro – quase apenas uma revista – é primorosa. Como uma taça de fino cristal, com um manjar dos deuses dentro (apesar da dor revelada), parece impresso para manusear, sentir e degustar. Há uma relação de prazer e sensualidade ao manuseio do livro, tão agradável ficou o toque de suas páginas e o impacto estético das fotografias em branco e preto. 

Este livro faz de todos nós filhos mais apaixonados por esta cidade linda, quente, cheia de alma, apesar do abandono em que se encontram muitos setores de sua urbanização. Quando se anda pelas ruas dos bairros mais antigos, sente-se muita dor ao ver tanto abandono; um abandono pungente que silenciosamente vai minando nossas lembranças de uma cidade mais bem cuidada e mais humana que existia outrora. Nossa casa se encontra abandonada pela indolência de maus administradores municipais, que preferem as tramas políticas e os holofotes da mídia a cuidar do bem mais precioso da população – nossa (também deles) cidade.

O antídoto contra os vitimadores de plantão e os vampiros de sua pujança existe. E só dará frutos cem por um se aplicado por movimentos culturais sérios como mostrou essa iniciativa do Presidente da ARL, do Editor da Expressão Vilimpress e dos Amigos da Fotografia, com apoio do Poder Municipal.  

A cultura e a educação são os meios mais eficientes e eficazes para perenizar a alma de um povo e projetá-lo para o futuro. Os movimentos culturais conscientizam sua gente, fazem dela defensora ferrenha do bem comum, e o povo, mobilizado, corta na carne dos maus políticos e estimula os ideais dos bem intencionados, dos que sabem que é no quintal de casa que a pessoas vivem e constroem um mundo mais humano e melhor. 

A Ribeirão Preto que resiste é a prova viva dessa tese. Depois deste trabalho tão bem feito, nossa cidade fica um pouco mais viva e resistente aos desmandos dos que apenas usam e dilapidam o patrimônio cultural, que é de todos nós. 

O jornalista, empresário, apoiador cultural e membro correspondente da ARL, senhor Vilibaldo Faustino Júnior, tem razão: um povo com passado é um povo com futuro. Que venham novas iniciativas nessa direção e novas obras surjam para continuar compondo a nossa “arquitetura do passado”. 

Como disse Guimarães Rosa, “o passado também é urgente”. 

 

(*) Membro da ARL, ARE e Grupo Flamboyant, e-mail: lit@flash.tv.br

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Feira Nacional do Livro de Rib. Preto, FOTOGRAFIA, LITERATURA