ROD: UM TITÃ

“Os titãs eram seres híbridos, nenhum era humano por completo e todos tinham o poder de se transformar em animais”.

Renata Cardoso Beleboni
Historiadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), especialista em mitologia.

O habitat de Rod, um Titã do século XXI, não é o Olimpo, é a cidade de Ribeirão Preto.
Nosso Titã não foi engolido por Urano: está devorando os desafios da vida há 35 anos.
Rod, como só ocorre com os titãs, parece não ser humano por completo: transforma-se em um leão nos momentos mais difíceis.
O mais recente embate entre Rod e um Urano pneumônico que tentou devorá-lo, terminou com o nosso titã num quarto, o 280-A, do Hospital São Francisco, após retirada de dois litros de líquido do pulmão direito, operação realizada com sucesso pelo Dr Isaias Jordão de Barros, acompanhada à distância pelos olhos atentos do Dr Pedro Thomé F. dos Reis Filho, oncologista, e sua capacitada equipe.
Durante cinco dias, ninfas de branco cuidaram do meu herói de um braço só — perdido em uma batalha contra um tumor maligno — e de peito condecorado com um corte vertical atingido que foi pelo mesmo inimigo quase mortal.
Ao lado dele, não sobrava espaço para Gaia, mãe do deus olímpico grego: a deusa Lu não tirava os olhos do corpo frágil e sonolento, e não se descuidava na hora do banho, da aplicação de analgésicos quando Zeus insistia em infligir, após batalha, qualquer tipo de ameaça de morte ou dor ao corpo do titã guerreiro.
Enquanto isso, eu, um hecatonquiro dos novos tempos, usava meus 100 braços e 50 cabeças, cuidando do apoio logístico que a situação exigia: preparava a comida, lavava louças após minhas refeições solitárias, cuidava dos periquitos e peixes, botava o lixo na rua, e atendia telefones e e-mails de amigos preocupados com nosso titã.
Passado o susto, recebemos a visita de Cronos — um Deus de cor vermelho marsala — que veio separar, sem castrações, o Céu da Terra, o prazer do sofrimento, o bem do mal, o sorriso do choro, preparando-nos para novos tempos e desafios, enfim, o início de uma nova vida.
Agora, prostrados diante de nossos oráculos, louvamos ao Senhor e a todos os Santos, agradecemos ao caçador Héracles que passou por Ribeirão Preto e viu o sofrimento do nosso titã, e, com uma flecha antibiótica certeira, abateu a gigantesca e terrível Pneumonia, libertando o cativo Rod-titã de suas dores e tristezas.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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