SIMÕES NO NOSSO CAMINHO

SIMÕES NO NOSSO CAMINHO.

“Hospital: local onde seres humanos se desnudam de suas máscaras e se mostram como são em suas verdadeiras essências”

De texto atribuído ao Papa Francisco

Num hospital, quando são tocadas as feridas das pessoas, universos se cruzam em um propósito divino…e é nessa comunhão de destinos que nos damos conta de que, sozinhos, não somos ninguém. A verdade absoluta das pessoas, na maioria das vezes, só aparece no momento da dor ou da ameaça real da perda definitiva.
Nas noites passadas no hospital, comungamos nossas dores com outras dores de pacientes passageiros, um de cada vez: Sr.Luiz em pós AVC e esposa, Sr. Pedro acompanhado por oito filhos, o jovem Guilherme que caiu de moto e sua mãe, Ricardo trocando pinos no pé, Wellington, José Henrique com cólicas renais.
Nessas férias de julho de 2018 — de 21 de julho a 1º. de agosto, quarto 280B, Hospital São Francisco — conduzimos, por mais um pedaço do caminho, a nossa cruz familiar: foi parte de uma decisão que tomamos de levarmos até seu fim, nosso calvário, uma tarefa difícil e penosa.
Contamos nessa caminhada, a todo instante, com o apoio irrestrito do Prof. Velloso (mantenedor) e Alcilene (Diretora) do Colégio Anchieta.
E nessa caminhada muitos foram os Simões, que a exemplo de Simão, o cireneu, nos ajudaram na árdua tarefa.
A fotógrafa Elza, no dia do eclipse da Lua de Sangue, para os místicos um dia de cura, montou o tripé com sua câmera voltada para a lua, e pediu pela saúde do seu “príncipe Rod”.
A professora Maria Inês Pedrobom, enviou-me uma vela trazida de Fátima, que foi acesa no quarto do Rod junto à imagem da Virgem.
De Maria Rita e José, da cantina do Colégio Anchieta, recebi uma rosa de Santa Rita, cujas pétalas foram colocadas na água a ser sorvida por Rod.
Vicente, amigo Palmeirense, regateiro, levou para Rod um frasco com água benta, que o abençoou todos os dias nas nossas Orações do Ângelus.
Marcinha levou para toda a família água energizada e suas preces ao lado do leito do Rod, e ela disse: ”Ele está envolto em uma energia azulada”.
O Pastor Nelson e o Padre Josirlei, levaram para o quarto 280 palavras de conforto e esperança: e ungiram com óleo nosso guerreiro.
Giovana e Sebastião, irmão do Rod, levaram, numa tarde, palavras de carinho e incentivo.
A enfermeira Silvinha e a jovem Hana nos proporcionaram um fim de noite importante de oração e reflexão.
Minhas amigas Mara e Dani, companheiras de “cavalgadas” do Rod, foram para marcar um futuro passeio.
Grupos de orações se distribuíram pela cidade, e até fora dela, para orarem e enviarem energias positivas: Prof. Paulo Cesar e Vó Joana, Andreza/Wagner, Dalva/Luiz Sérgio Roxa, Davi e sua amada N. S. Aparecida, meu irmão Máximo direto de Uberaba, Dr. Fernanda/ Francisco, Profa Stela.
WhatsApps foram trocados diariamente durante os doze dias, com mensagens de incentivo, orações e pedidos de notícias sobre o quadro clínico de Rod: Tia Rita (minha irmã também tomando quimio), Tia Arlete e família, Dr Maurício, Profa. Eliana, Prof. Mussarela e seus pequenos filhos, meu irmão Vereador Rodrigo Simões, Eduardo e Guto , Irmã Regina Trautman, Soninha da biblioteca, Rosa da secretária, Padre Gilberto Kasper, meu irmão Waldomiro, Zau, Adriana Boainain, Profa. Denise, Prof. Ronaldo, Antonio do Hopi Hari, Cel. Correia, Dra Gabriela especialista em dores, Profa. Carmen Kairala, e muitos outros que oraram no silêncio de seus corações.
Enquanto isso, entre aplicações de soros, analgésicos e remédios contra ânsias de vômito, Rod, são-paulino roxo, viu, no campeonato brasileiro, ao meu lado, o tricolor do Morumbi ganhar do Corinthians e do Cruzeiro…e perder para o Grêmio: momentos de descontração e alegria.
Após alguns dias de internação, cuidado por anjos de branco — Livia, Priscila, Giovani, Tatiane, Larissa (terapeuta que ajeitou uma cadeira de rodas para Rod caçar Pokemon nos corredores do hospital) e muitos outros — Rod foi encaminhado para a sala de cirurgia para retirada de um tumor, junto com parte do pulmão direito, dia 30 de julho, das 19h30 às 21.30: nosso Rod esteve nas mãos competentes e profissionais dos Doutores Kelter e Ricardo, acompanhados à distância pelo Dr. Pedro Thomé, e pelo Dr Bezerra de Menezes. Rod voltou para o quarto na madrugada de 31 de julho para 1º. de agosto sob os olhares amorosos de Chico Xavier.
Na TV — após eu sair do estacionamento da minha amiga Profa. Regina e seu filho Fábio, ambos em oração pelo Rod — Bolsonaro, candidato à Presidência da República, que dava entrevista polêmica no Roda Viva, e terminava a novela global Deus Salve o Rei.
Em minha casa, nas noites solitárias, trocando WhatsApps — bendita tecnologia — com minha Lu, eu lia o livro de Inácio Larrañaga, “O Irmão de Assis”, e compartilhava as dores do Santo, da mesma forma que compartilhava as dores do Rod, e refletia sobre o texto: “Por que o Filho de Deus usou a dor para remir o mundo? Que há por detrás da dor? A redenção? A extinção? A paz? Nas mãos de Deus, que significa a dor? Carinho? Castigo? Predileção? Purificação? Piedade para conosco? Aviso? Ouvi dizer que a dor e o prazer são a mesma coisa. Será verdade?”
Agora o tumor foi retirado e analisado, tem características de carne de peixe — que faz lembrar o Cristo —, e novas etapas serão estabelecidas para um tratamento sem fim.
As batalhas contra o sarcoma continuarão porque a vida é assim, segundo Guimarães Rosa: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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