artigo: ROD DEIXOU UM VAZIO

“Há no homem um vazio do tamanho de Deus”.

Fiódor Dostoiévcki

No dia 16 de agosto de 2018, meu filho Rod faleceu.
Mas deixou lembranças de momentos de enorme felicidade, mas também de sofrimentos: deixou muita saudade, palavra triste:

“Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim

Naquela mesa está faltando ele
E a saudade dele está doendo em mim”.

Abriu-se um vazio em minha vida: um vazio que ocupa um espaço imenso.
Um vazio que dói demais, um abismo profundo abriu-se aos meus pés.
Sinto-me nu e sangrando, num vale de lágrimas.
Minhas energias vitais parecem escorrer rapidamente, como a areia de uma ampulheta descontrolada.
Passei a sentir-me como se estivesse dentro de uma máquina de moer, que mói minha carne junto com minha alma.
Todos os dias há um vazio no meu carro, num lugar antes ocupado diariamente por, pelo menos, trinta e dois anos.
Há um vazio na sauna do Clube de Regatas.
Há um vazio, no sofá da sala, durante os jogos do São Paulo F. C.
Há um vazio na porta de entrada de minha casa, quando chego do trabalho.
Há um vazio quando caminho pelo pátio do meu local de trabalho: ao chegar e ao sair.
Há um vazio nas festas comemorativas do Colégio Anchieta: Gincana, FECCAN, Natal…
Há uma vazio na mesa, durante o café da manhã, no almoço, no jantar.
Há um vazio na beira do rio Pardo no espaço entre um pescador e outro.
Há um vazio nos pontos em que Rod caçava Pokemons.
Há um vazio defronte ao computador onde ele, durante à noite, jogava FIFA com seu primo Paulo Henrique.
Há um vazio na sala de Informática, onde trabalhava com sua amiga Profa. Eliana.
Há um vazio no quarto que foi de Rod por quase trinta e seis anos.
Há um vazio em cada manhã e em cada cair da noite, um vazio de Vicente de Carvalho:

“Vai chegando a hora, vai chegando a hora
Em que a mãe ao seio chama o filho… A espaços,
Badalando, o sino diz adeus, e chora
Na melancolia do cair da noite;
Por aqui, só cruzes com seus magros braços
Que jamais se fecham, hirtos sempre… É a hora
Do cair da noite…”.

Todos são vazios que ocupam meu ser, e até transbordam, vez ou outra, em forma de soluços mal contidos.
São vazios que corroem por dentro, trazem sofrimentos, lembram beira de abismos incapazes de serem preenchidos.
Mas, ao mesmo tempo, ensinam a crescer: são fontes de experiências, e bons ensinamentos, que facilitam a compreensão dos problemas do próximo.
Não é fácil conviver com o vazio que preenche o peito e traz uma sensação quase enlouquecedora para as nossas vidas.
Não é fácil viver em busca de algo que possa suprir esse sentimento, assim como não é nada fácil encontrar.
Se há no homem um vazio do tamanho de Deus, no homem que perde um filho esse vazio não tem tamanho.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
WWW.tortoro.com.br

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