MERGULHAR NO ALEPH É VIVER O PRESENTE
“Podemos ver o infinito em um grão de areia e a eternidade em uma flor”
William Blake
Antes do Big Bang não existiam o tempo, a gravidade, a eletricidade, o magnetismo nem as forças que mantêm coeso o núcleo dos átomos e fazem os elétrons girarem em torno dele. Era o tudo e o nada, o “alfa e o ômega”, a energia e a matéria de todo o universo condensados em um ponto do tamanho de 1 bilionésimo de um próton.
É sabido também que, para os nativos massais, da África Oriental, o limite do universo está no ponto mais distante alcançado por suas vacas, das quais toda a vida da tribo depende.
De um lado, o tudo contido em quase nada; do outro, o infinito limitado pela distância alcançada por uma vaca, ou pelo ponto em que perdem valor as leis da Física, sobre as quais se assenta todo o conhecimento humano: e entre esses dois extremos, o Aleph, no presente.
“Assim, aquilo que chamamos “vida” é um trem com muitos vagões. Às vezes estamos em um, às vezes em outro. Outras vezes atravessamos de um para o outro, quando sonhamos ou quando nos deixamos levar pelo extraordinário”: é assim que nos sentimos durante a leitura de O Aleph, o mais recente livro de Paulo Coelho, 255 páginas, da Editora Sextante.
A leitura dessa obra é uma viagem pela Transiberiana — uma das três maiores ferrovias do mundo, que começa em qualquer estação da Europa, mas que, na parte russa, tem 9.288 quilômetros, ligando centenas de pequenas e grandes cidades, cortando 76% do país e atravessando sete diferentes fusos horários — e que marca a volta de Paulo Coelho às origens.
“Num relato pessoal franco e surpreendente, ele revela como uma grave crise de fé o levou a sair à procura de um caminho de renovação e crescimento espiritual.
Para se aproximar de Deus, o mago resolve começar tudo de novo : viajar, experimentar, se re-conectar às pessoas e ao mundo. E, assim, entre março e julho de 2006, guiado por sinais, visita três continentes – Europa, África e Ásia – lançando-se em uma jornada através do tempo e do espaço, do passado e do futuro, em busca de si mesmo.
Ao longo da viagem, Paulo vai, pouco a pouco, saindo do seu isolamento, despindo-se do ego e do orgulho e se abrindo à amizade, ao amor, à fé e ao perdão, sem medo de enfrentar os desafios inerentes à vida”.
E o escritor descobre que não é preciso ir longe a fim de compreender o que está perto: a peregrinação o faz se sentir vivo novamente, capaz de enxergar o mundo com os olhos de criança e de encontrar Deus nos pequenos gestos cotidianos, no Aleph, no presente, bastando um simples momento de harmonia interior para que isso aconteça.
Meus colegas de academia não aprovam Paulo Coelho, mesmo depois de ele ocupar uma das Cadeiras da Academia Brasileira de Letras, mas confesso, despudoradamente, que gostei de viajar ao lado dele durante a travessia da Rússia, não para encontrar respostas que poderiam estar faltando em minha vida, mas para estar, por alguns momentos, conectado comigo e com o universo mágico à minha volta.
É isto que faz a vida interessante: acreditar em tesouros e milagres.
Para quem acredita nos cientistas quando eles dizem que a energia e a matéria de todo o universo, num certo momento, estiveram condensadas em um ponto do tamanho de 1 bilionésimo de um próton, fica fácil sonhar com a possibilidade de um mergulho em seu Aleph pessoal: “o ponto em que tudo está no mesmo lugar ao mesmo tempo”.
COMENTÁRIOS SOBRE O ARTIGO ACIMA:
Delicioso seu artigo!
que bom termos esta liberdade de ler e respeitar o outro!
Que bom saber que também estamos sempre em busca de respostas e de um encontro pessoal que nos torne mais leves e melhores!
Obrigada, amigo!
Adorei!