BARRABÁS E/OU JESUS ?

Hoje, primeiro dia do ano, acordei com uma pergunta martelando-me a mente: Barrabás ou Jesus ?
E penso ser essa a pergunta a ser feita nesse início de ano a cada um que pretenda mudar alguma coisa.
Agiremos a partir de hoje como Barrabás —  lutando contra uma dominação (que não é a romana), atacando legiões de corruptos, fustigando forças dominantes —  ou de acordo com o que pregou Jesus — sendo manso e simples, vivendo semeando amor ?
Estaremos no decorrer de dois mil e catorze ao lado dos romanos (força, poder econômico) ou dos sacerdotes ( acreditando no poder das palavras)  ?
Continuaremos falando como Jesus, mas na hora da decisão, agindo como Barrabás quando estiverem envolvidos interesses particulares ?
Ficaremos em cima do muro — Barrabás e Jesus, conforme a conveniência do momento — quando, ao pensarmos em defender uma causa justa e nobre, sentirmos que poderemos ser prejudicados em nossos interesses escusos e inconfessáveis ?
É preciso termos em mente que viver é optar, é escolher, é tomar partido, é escolher um lado: mas qual o lado ?
Escolhendo ser sempre Jesus ou Barrabás, ou mudando  qual camaleão, de acordo com as conveniências entre ser um ou outro, sempre teremos ônus e bônus.
Não escolher, e deixar nas mãos da maioria,  também tem suas conseqüências: Pilatos que o diga.
Também não cabe mais fazer de conta: é preciso que caiam as máscaras, transparência já em todos os setores da existência humana, que venham as denúncias e apurações.
Cheguei a pensar na hipótese: e se  Barrabás tivesse sido crucificado ?
Possivelmente haveria uma revolta geral, armada, tendo em vista a opressão exercida pelos romanos e a necessidade de uma mudança política urgente, uma mudança que os princípios cristãos não conseguiram realizar até hoje, após dois mil anos. E Jesus vivo, sexagenário, já não teria a força e os ímpetos dos trinta e poucos anos: teria desistido da palavra e partido para ações mais concretas em um dos lados da contenda, sendo orientador espiritual de Pilatos (por tê-lo salvo sob influência da esposa) ou seria um respeitável  sacerdote do Templo.
E assim estaríamos, da mesma forma que estamos hoje: vendo surgirem falsos profetas de tempos em tempos, com o mesmo tipo de religiosos e políticos ( a essência do  ser humano pouco evolui em milênios) mas com uma diferença: estaríamos cheios de esperança com a prometida vinda do Messias.
Mas o problema é que, cada um de nós, pobres, imprevisíveis e imperfeitas criaturas humanas, trazemos dentro de nós Barrabás, Jesus, Pilatos, Caifás — tudo junto e misturado —,  e somos cada um deles de acordo com nossa conveniência do momento.
Enfim, que venha 2014 com seus problemas e desafios, e com uma única certeza: só não podemos lavar nossas mãos.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.brBARRABAS

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