BARRACA DA LINDA

“O mar quando quebra na praia  /  É bonito, é bonito…”

O mar,  de Vanguart

Seis longos dias de uma rotina estafante: acordar às sete, tomar reforçado café da manhã, saudar Iemanjá na praia Mirim , pular ondas sob um sol de verão, para depois tomar caipirinha, cerveja gelada, comer camarão, ir para o Centro de Lazer e mergulhar na piscina refrescante, almoçar, dormir por duas horas, voltar à praia, retornar à piscina, jantar, ir para a cama ver TV e…dormir exausto.
Mas para quebrar a monotonia, nas areias da Praia Grande existe uma barraca que eu poderia, com perdão dos muçulmanos, chamar, com todo respeito, de caaba tupiniquim: um centro de peregrinação dos freqüentadores de praia, para onde,  diariamente  se dirigem praieiros e turistas para satisfação de pequenos prazeres da gula.
É o lugar mais sagrado do pedaço de areia que divide Cidade Ocian de Vila Mirim.
Passar o dia nos arredores da barraca mais aconchegante do litoral paulista é parte de um ritual que sinto necessidade de cumprir, pelo menos uma vez a cada ano,  a fim de recuperar energias necessárias e suficientes para realização do meu trabalho de Orientador Educacional.
Um trio de anjos da guarda — Linda,  Delma e Isabel — zelam, sempre com sorrisos cativantes, pelo bem estar de quem tem  a felicidade de encontrá-las na beira do mar, seja sob sol escaldante, ao sabor da brisa suave e refrescante, ou mesmo quando as nuvens ameaçam invadir terra e mar expondo somente espectros que vagam pela areia ou, teimosamente, se banham no mar em extrema ebulição de ondas.
Estar com Linda e sua inseparável simpatia — mulher forte, de pele queimada pelo constante contato com o sol, olhar firme e decidido, pés  no chão, cabelos levemente encaracolados,  e leve pintura no rosto, orgulhosa mãe de Lucas, futuro engenheiro na área petrolífera  —  é sentir a satisfação inexprimível de poder voltar, mais uma vez, ao mar da Praia Grande, tendo a oportunidade de  encontrar amigos que a distância, e os trezentos e sessenta e cinco dias do ano,  não conseguem apagar da memória.
Ao sabor da cebolinha frita, ou do camarão a milanesa, dando goles na cerveja gelada depois de abrir o apetite com uma batida de maracujá, nada é mais prazeroso do que ficar filosofando ao ritmo das ondas — ou não pensando em nada — ouvindo o eterno  ribombar monótono do mar, somente quebrado pela presença sempre bem vinda da Linda sugerindo um novo petisco ou nova bebida gelada.
Enfim a barraca da Linda, como afirma o poeta, nos momentos de lazer quase não me deixa pensar em nada: quem está ao pé dela está só ao pé dela.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@ Yahoo.com

 

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