AMIGOS E RARA GINGA
“Sim, amigo é coisa muito séria “.
Rachel de Queiroz – Crônicas
Rachel de Queiroz , em uma de suas crônicas, diz que “se você não é capaz de ter amigos, você é um erro da natureza, você é como o unicórnio, o animal de que se fala mas não existe. Porque até os bichos têm amigos; e dizem que, depois da morte, no outro mundo, as almas mantêm sublimadas as amizades cá de baixo, naquela quintessência de excelências que só o céu pode dar”.
É assim o recanto onde encontro semanalmente, nos finais de semana, alguns de meus amigos.
O recanto é sempre o mesmo, ornamentado ao fundo pelo mosaico de pastilhas compondo um alegre golfinho azul e branco que salta no lado externo do tanque do Clube de Regatas.
O espaço especial parece curva de rio, do bem, onde todo mundo passa e para um instante a fim de trocar um abraço, um sorriso, ou simplesmente se comunicar com acenos carregados de bom humor e carinho.
A cachaça especial, benzida com canela, abre o apetite depois de servida na passagem do amigo Carrapato.
Nas três ou mais mesas reunidas pelo primeiro que chega à área das piscinas, os petiscos surgem do nada como maná no deserto: saladas, amendoim, azeitonas, batata frita, lingüiça calabresa, cuscuz, salsicha, patês de todos os tipos.
Das caçambas brotam como se por milagre, garrafas de Skol, Brahma, Antarctica.
A conversa rola solta, aumentando de volume conforme aumenta o teor alcoólico dos participantes dessa confraria de final de semana que não se cansa de brindar com caipirinha e chope a alegria de poder rever amigos e usufruir da beleza natural que margeia o caudaloso Pardo.
E se não bastasse , agora estamos sendo agraciados pelo que de melhor existe no samba, com a presença do Rara Ginga do Samba, um grupo de gente simpática, com música ao vivo, substituindo o som monótono das costumeiras pequenas caixas distribuídas pelas dependências do Regatas, com um som quase imperceptível dado ao burburinho das conversas paralelas, tilintar de copos e gritos de crianças.
Sidney (violão e voz), Genésio (pandeiro e voz) , Billy (cavaco e voz) , Ecinho ( repique e voz) , Thiago (teclado) , Aguinaldo (contrabaixo) Dino (percussão geral) e Guilherme (rebolo e voz), a convite do conselheiro Ricardo Sembenelli, e apoio da diretoria do Regatas, fazem desfilar em poucas horas um rico repertório com o que de melhor existe na música popular brasileira : Benito Di Paula, Adoniran Barbosa, sambas enredo, Clara Nunes, Ivete Sangalo e tudo o mais que compõe um típico pagode de fundo de quintal.
Acabo de ler a Folha, tomo um gole de chope e vou para a sauna obedecendo a um ritual que se não for devidamente realizado por um par de vezes, torna a segunda-feira um dia difícil de ser suportado.
Enfim , depois de uma overdose de samba e de amigos, de volta para casa, um sono rápido que refaz as sexagenárias energias perdidas, mais algumas cervejas, o jogo do São Paulo, o Fantástico e, no dia seguinte, o início de mais uma semana dividida com alunos, professores, pais, e muitos desafios que envolvem o dia a dia de uma escola, que não é de samba.
Fotos de Lu Degobbi – Grupo Amigos da Fotografia