MOULIN ROUGE FICA ALI.
“Quero pintar a verdade, e não o ideal “
Toulouse-Lautrec
Para quem não sabe, por algumas horas, a luxuosa e glamourosa boate francesa, Moulin Rouge, saiu de Montmartre, Paris amoral e boêmia, e ficou ali, quase perto do Ribeirão Verde, numa estradinha de terra, ladeada por uma vegetação em processo de extinção: na Chácara Lira.
Na abertura da apresentação da debutante aos presentes, jovens bailarinas envolveram nossa Diamante Brilhante com o mesmo incremento da nudez de centímetros, compreendidos entre o fim das meias pretas e a barra das calças brancas, que abalaram a capital francesa no final do século XIX.
Em seguida, a doce e delicada Serena, no dia dos seus quinze anos, incorporou Satine, cortesã famosa, e Murilo, seu namorado, transformou-se no jovem e apaixonado poeta Christian: e proporcionaram aos convidados para a festa instantes de rara beleza em vermelho carmim.
À luz de velas, vermelhas, é claro, os convidados eram servidos por garçons mascarados e garçonetes com plumas compondo a cabeça, e vestidos quase que completamente de negro, que deslizavam por entre belíssimos posteres produzidos pela aniversariante e que substituíam , após décadas, os cartazes criados com gravuras do melhor pincel do submundo parisiense: cento e dez anos depois, o anão deformado, Toulouse-Lautrec, parecia estar em algum lugar do recinto, esgueirando-se por entre as mesas à procura de alguém a ser retratado, apesar de as digitais estarem cumprindo devidamente o seu trabalho nas mãos do pai e fotógrafo , Marco Pires.
Mais tarde, depois de muitas declarações de amor e afeto — entre familiares, amigos, professores e convidados — e a intensa emoção trazida pela sequência de fotos num telão, e que apresentaram à sociedade a pequena e jovem milanesa cidadã do mundo, a noite regada a cerveja bem gelada fez esquecer o absinto e o cancã dos velhos tempos.
A noite de aniversário de minha sobrinha por extensão, Serena de Oliveira Pires, transformou-se como num passe de mágica em uma celebração da verdade, da beleza, da liberdade e, acima de tudo do amor.
Os momentos que todos compartilharam com ela e seus pais numa Chácara da periferia de Ribeirão Preto só me fizeram, após uma noite tão especial, ir até meu computador, sentar-me, e escrever sobre um breve sonho, um sonho transportado de uma época, um sonho de um outro lugar, um sonho sobre outras pessoas, mas , acima de tudo, um sonho de amor.
Um amor que reviverá sempre que alguém, nos seus quinze anos, se lembrar de Satine e Christian e pintar de carmim ideal o cinza chumbo da verdade nua e crua da existência humana.