No primeiro dia: muitas nuvens, chuva fina e mormaço.
No segundo dia: chuva fina e um sol tímido infiltrando-se, de vez em quando, por entre as nuvens.
Tinha tudo para ser um verão sem sol, e não um “Verão Sem AIDS” , como anunciava um show musical, apoiado pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, na Praia Grande, litoral sul , nesse final de janeiro de 2009.
No terceiro dia fez-se a luz, ou melhor, o sol: escaldante, persistente, rompendo as poucas nuvens que tentaram impedir seu desabrochar ofuscante.
Na colônia de férias dos Empregados no Comércio do estado de São Paulo eu me sentia o próprio menino do dedo verde, ou melhor, mágico : meu dedo indicador transformou-se, por milagre da tecnologia, em Abre-te Sésamo, varinha mágica. Durante seis dias foi utilizado para entrar na colônia e no restaurante — café da manhã, almoço e jantar.
Quando não era o dedo, era o cartão magnético a ser utilizado para entrar no apartamento e nas compras realizadas no interior do prédio : refrigerantes, cervejas, balas, chocolates, e outras guloseimas.
Enquanto Obama tomava posse para resolver a crise no mundo, a parte dela, que me cabia, deixei por alguns dias em Ribeirão Preto.
Na praia, a barraca da Linda sempre foi um porto seguro : cerveja, refrigerante e água bem gelados, porções de camarão, prontidão na colocação do guarda-sol, das banquetas e cadeiras sobre a areia fina e branca, banhadas por ondas tão frias quanto cristalinas.
Um desfile de carrinhos fica encarregado da transformação constante do cenário que abriga, diariamente, milhares de pessoas em busca de paz, calor e luz : milho verde, raspadinha, camarão, queijo, caranguejos, orquídeas, cangas, óculos, sorvete, pipas, balões.
As crianças montam castelos de areia, os adultos se avermelham ameaçadoramente no mormaço, na ausência do sol. Os idosos se escondem sob os guarda-sóis, e os jovens namoram, brincam ruidosamente ou praticam esportes: vôlei, futebol, corrida pela orla.
No ar , pipas de todas as formas, disputam espaço com garças, gaivotas, aviões de propaganda e helicóptero do Corpo de Bombeiros.
Na avenida Castelo Branco, o trânsito flui intenso, paralelamente à ciclovia, e sob o olhar atento de uma equipe da Polícia Militar: segurança nota dez.
Na feirinha ao lado da Colônia, um vai e vem ininterrupto de turistas e vendedores: conchas, chapéus, pequenas lembranças, cangas, toalhas, sorvetes, lanches, tatuadoras com Hena.
Na volta da praia, um banho de piscina ao som de música eletrônica, envolvidos pelo azul e branco da acolhedora e bem cuidada colônia.
À noite, depois de uma tarde de bingo e outras atividades, a cantina se transforma em salão de baile que, todos os dias, até meia-noite em ponto, embala os casais ao som de boa música.
No retorno , a bordo do confortável ônibus 3590 da Rápido D’Oeste, ao som de um DVD de Victor e Leo, muita chuva na subida da Serra do Mar, e a certeza de mais um ano e muito trabalho e desafios, renovadas as energias aos pés de Iemanjá.