LI E GOSTEI: MORTE E VIDA NO K2

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UM MAUSOLÉU CHAMADO K2

“Toda expedição que parte para derrotar o K2 está consciente de que um em cada quatro de seus membros provavelmente morrerá”.

Sempre associei a montanha ao cósmico, ao divino, principalmente quando imagino nuvens soprando nos imensos promontórios do K2.
A montanha é um altar que se eleva da terra ao céu: um mediador entre o terreno e o divino, o mundano e o psíquico.
A forma de uma montanha é por vezes simbólica: que o diga a pirâmide negra do K2.
A montanha pede para ser escalada, pois a ascensão física corresponde à ascensão espiritual ou mística da consciência, e a simboliza.
E chegar ao cume da montanha é como chegar à iluminação.
A montanha é pedra: Pedra Filosofal.
Mas a montanha também é mausoléu.
K2: um mausoléu de 8.534 metros de altura, na cordilheira de Karakoram, que em agosto de 2008 recebeu os corpos de 11 alpinistas e virou manchete no mundo todo.
O K2 é quase 244 metros mais baixo que o Everest, o pico mais alto do mundo, mas é considerado muito mais difícil e mortal. È mais íngreme, e suas faces e cristas tombam abruptamente em todos os lados sobre glaciares quilômetros abaixo. Fica a 8 graus de latitude ou 888 quilômetros mais ao norte que o Everest, estendendo-se pela fronteira entre o Paquistão, a sudoeste e a China, a nordeste, e, longe do ar quente do oceano, seu clima é mais frio e notoriamente mais imprevisível. Ao longo das décadas, levara dezenas de alpinistas iludidos a se perderem em fendas ou simplesmente os varria de seus flancos, sem qualquer aviso, durante tempestades repentinas.
Ler Morte e Vida no K2, de Graham Bowley, é seguir com alpinistas sob o sol frio no glaciar Godwin-Austen. É olhar mais de 3 quilômetros para o alto, na face sul, depois subir 60 metros até o Memorial de Gilkey, o monumento aos mortos do K2 — onde as placas de metal em homenagem aos mortos estendem-se pela parede, amarradas umas à outras com arame e tilintando debilmente na brisa . É ver de perto o pico, o Grande Serac ( bloco de gelo gigante) e o Gargalo da Garrafa, podendo contemplar sua beleza e seus desafios: e compreender por que homens especiais arriscam suas vidas para escalá-lo.
Ler as 240 páginas de Morte e Vida no K2 é sentir-se no cume da segunda mais alta montanha do mundo , numa sexta-feira, 1º. de agosto de 2008, com um grupo de experientes alpinistas, erguendo com eles os braços, em comemoração porque haviam acabado de se juntar à elite que já conquistara a mais perigosa montanha do mundo — sem saber que um imenso bloco de gelo caia logo abaixo deles e arrastava as cordas fixas, e que seriam obrigados a descer na escuridão e sem o apoio delas.
Com estilo emocionante, Graham Bowley narra toda a tensão e tragédia daquele dia fatídico — histórias de coragem, insensatez, sobrevivência e perda devastadora — e nos coloca no interior das mentes daqueles que estavam dispostos a arriscar tudo em busca de uma das realizações máximas do alpinismo.
Enfim, Morte e Vida no K2 é o incrível relato de um dos maiores desastres do montanhismo, baseado em exaustivas entrevistas com os alpinistas sobreviventes, xerpas, carregadores, familiares e amigos dos falecidos.
Em tempo: obrigado amigo João Carlos Figueiredo por ter-me indicado, via Facebook, a leitura dessa “ narrativa hábil e cuidadosa de um dia turbulento, contada em tempo real. Fatalidade por fatalidade…devastador” , segundo o The New York Times.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
WWW.tortoro.com.br

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