“De tirar o fôlego ! Uma adaptação inteligente e impressionante.”
Variety
Recentemente foi divulgada notícia de que o quadro “Moça com Brinco de Pérola” , de Johannes Vermeer — nasceu em 1632, em Delft, na Holanda, casou-se aos 20 anos com Catarina, uma jovem rica, e morreu aos 43 anos, em 1675 — , estava de volta à Real Galeria de Artes Mauritshuis, fechado por dois anos para uma reforma de custou R$ 97,5 milhões.
O quadro, um dos mais famosos do mundo, criado por volta de 1665, voltará a ser exibido ao público na cidade holandesa de Haia, em 27 junho de 2014. “Moça com Brinco de Pérola” — a Mona Lisa do Norte — fez uma turnê mundial enquanto o museu ficou fechado.
A pintura é linda e intrigante, já que não retrata a beleza clássica e idealizada, mas algo mais comum, e por isso, belo. Nota-se um forte contraste claro/escuro, isto é, luzes e sombras, característico do movimento artístico ao qual o pintor está incluso, o Barroco, e as cores predominantes são o azul, vermelho e dourado, o que não é aleatório. O uso de tais cores está conexo ao período, onde houve um contato maior com o oriente, a china em especial, onde estas cores eram tradição, sendo traduzidas na Europa como requinte e quebra com a última Escola.
E essa obra de arte deu origem à uma outra: o filme do diretor Peter Webber, com Scarlett Johansson, Tom Wilkinson e Colin Firth no elenco.
Nesse filme, Griet, interpretada por Scarlett Johansson, trabalha como criada na casa do artista plástico Johannes Vermeer. Ele vive com a esposa ciumenta e possessiva. Com o tempo, Griet fica completamente fascinada pela pintura delicada de Vermeer e se revela apta para auxiliar em seu ateliê, onde ela encontra um novo mundo de cor e luz: o artista ensina sua empregada a preparar a tinta, moer, misturar com o óleo, fala das cores, dos tons, ensina que o mundo não é pastel, e que uma única cor se decompõe em várias outras, como é o caso das nuvens, ou dos vestidos. Com seu olho crítico, Griet interfere no processo criativo e se torna parte do trabalho. Mas a intimidade crescente entre os dois desperta inveja e rompimentos na casa, criando um escândalo para a época.
O longa-metragem adaptado do romance da escritora Tracy Chevalier (2002), conta a história do pintor numa biografia fantasiosa que sugere a forma como surgiu à inspiração de Vermeer para produzir sua obra mais conhecida, mostrando o interesse pela beleza de sua empregada e a forma como ele pinta seus quadros utilizando os efeitos ópticos das lentes, através da câmara escura, a fim de reproduzir fielmente a realidade, com tintas preparadas com matéria prima de todos os tipos e de formas surpreendentes.
O cenário do filme retrata a Holanda do século XVII e a casa do pintor — Mestre da Luz holandês — é mostrada com uma seqüência de cenas emolduradas tão comum nas pinturas sob a mística luz holandesa : supostamente, após os aterramentos, a cor dos céus holandeses mudou, pois não existiam mais pântanos e lagos para refletir a luz para o céu.
Para muitos a relação entre Vermeer e Griet pode parecer um amor platônico, mas para quem costuma admirar a beleza como fonte de criação artística percebe, nos olhares do mestre do azul e amarelo para sua criada, uma obsessão do criador diante da modelo de sua futura obra de arte.
Gosto de fotografar e tenho que me policiar para, diante de uma cena do quotidiano, não abordar pessoas que poderiam sentir-se incomodadas com a invasão do meu olhar, um olhar que facilmente poderia ser interpretado como libidinoso, ofensivo, agressivo.
É o caso de Vermeer no filme:ele observava discretamente os mínimos gestos de Griet e as composições possíveis dela com o ambiente, e a imagina como personagem principal em sua próxima obra.
Somente isso e mais nada.
Findo o filme, quanto Griet recebe pelo “correio” os inesquecíveis brincos de pérola, persistem em nossos sentidos a música de Alexandre Desplat, a fotografia de Eduardo Serra, e não falta mais nada: nem um ponto de brilho ( o brinco).
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br