LI E GOSTEI : ZELOTA

CAPA-ZELOTA
HAMAS E ZELOTAS:AMBOS EM BUSCA DA MESMA “PALESTINA LIVRE”

“Um livro contundente e profundamente político, que honra e faz justiça ao Jesus real “.

San Francisco Chronicle

Recentemente o Papa Francisco e eu estivemos na Palestina.
Francisco na Palestina do século XXI, e eu na Palestina do século I.
Francisco na Palestina que quer se livrar de Israel, e eu na Palestina que queria se livrar do Império Romano.
Francisco, pessoalmente, em Jerusalém, foi comemorar o 50º. Aniversário de um histórico encontro de líderes católicos e ortodoxos que concentraram esforços para acabar com 900 anos de divisão entre as duas igrejas.
Eu, mentalmente, em Jerusalém — mergulhado nas páginas do livro Zelota – A vida e a época de Jesus de Nazaré , de Reza Aslan — fui conhecer o Templo, o lugar mais próximo que se pode chegar da presença de Deus: “ O cheiro de carnificina é impossível de se ignorar. Ele se agarra à pele, ao cabelo, tornando-se um fardo desagradável do qual você não vai se livrar tão cedo. Os sacerdotes queimam incenso para abafar o fedor e a doença, mas a mistura de mirrar e canela, açafrão e olíbano não conseguem mascarar o insuportável mau cheiro da matança. Ainda assim, é importante manter-e onde você está e testemunhar seu sacrifício acontecer no próximo pátio, o Pátio dos Sacerdotes”. Fui conhecer as divergências entre as igrejas de Pedro, Tiago e João e a de Paulo de Tarso.
Passei por Masada antes do assalto final dos romanos : “ …os rebeldes , sicários, sortearam entre eles para decidir a ordem com que prosseguiriam com o plano macabro ( o de morrerem todos sob seus próprios punhais). Então, pegaram seus punhais… e começaram a matar suas esposas e seus filhos, antes de dirigir as lâminas uns contra os outros “.
Em 70 d.C., durante o cerco de Tito à Jerusalém, vi “ …a fome que se seguiu horrível. Famílias inteiras morreram em suas casas. As ruas estavam cheias de corpos de mortos; não havia espaço nem força para enterrá-los corretamente. Os habitantes de Jerusalém se arrastavam através dos esgotos em busca de alimento. As pessoas comiam estrume de vaca e tufos de capim seco. Rasgavam e mastigavam o couro de cintos e sapatos. Comeram mortos”.
Andei ao lado do homem chamado Jesus de Nazaré, o pregador itinerante, vagando de cidade em cidade clamando sobre o fim do mundo e sendo seguido por um bando de maltrapilhos.
Mas o mais importante dessa histórica aventura — que vim a conhecer graças a um comentário do jornalista Fernando Mitre sobre o livro Zelota ( Best-seller no. 1 do New York Times ) , no programa Canal Livre, da Band, em que o entrevistado era Mário Sérgio Cortella — é poder acompanhar, passo a passo, a defesa do autor da seguinte tese: Jesus foi um revolucionário judeu que, há dois mil anos, atravessou a província da Galileia reunindo apoiadores para um movimento messiânico, com o objetivo de estabelecer o Reino de Deus, mas cuja missão falhou quando, após uma entrada provocatória em Jerusalém e um ataque aberto ao Templo, foi preso e executado por Roma pelo crime de sedição.
Zelota — nacionalista radical que considerava dever de todo judeu combater a ocupação romana — é um livro que não deve ser lido por aqueles cuja fé em Cristo não esteja solidamente alicerçada: a verdade histórica trazida a público por Reza Aslan — iraniano, especialista em temas religiosos, formado em Harvard e na Universidade da Califórnia e, segundo ele mesmo, “uma criança criada em uma família heterogênea de muçulmanos desinteressados e ateus exuberantes mas que sentiu intimamente o chamado de Deus em um acampamento evangélico para jovens no norte da Califórnia — pode abalar estruturas, e irritar fanáticos e cristãos fervorosos.
Mas, mesmo assim, o final do livro me fez lembrar o ditado espanhol, “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay (eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem)” , porque ele, paradoxalmente, conclui, no último parágrafo, que : “Jesus de Nazaré, Jesus, o homem, é tão atraente, carismático e louvável como Jesus, o Cristo. Ele é, em suma, alguém em que vale a pena acreditar”.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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