“Ninguém neste mundo tem o direito de dizer a quem quer que seja que o seu amor por outro ser humano é moralmente errado”
Barbara Streisand
No momento em que um candidato à Presidência da República, Levy Fidelix, durante um debate na TV Record, faz um discurso homofóbico terrível, diante de milhões de tele-espectadores, e ante o silêncio e a falta de qualquer tipo de reação imediata dos demais candidatos.
No momento em que na novela Império, da TV Globo, podemos viver o desespero e descontrole de um filho ao saber que o pai é gay, penso que, pior do que a homofobia — rejeição ou aversão a homossexual e a homossexualidade — dos homofóbicos incógnitos, é a homofobia dos pais quando se trata dos próprios filhos.
É impressionante a reação dos pais diante de qualquer insinuação ou possibilidade de descobrirem que seus filhos são homossexuais.
No primeiro momento querem provas de quem procurou, de alguma forma , alertá-los sobre a possível opção sexual de seus filhos. Ameaçam ir à justiça — sem pensarem, dado o descontrole emocional, que qualquer atitude nesse sentido somente exporá publicamente uma situação que deve , sempre, ser tratada com muito bom senso, maturidade e preocupação, em primeiro lugar, com a repercussão na vida social de seus filhos caso os depoimentos das “testemunhas” venham a público.
A quem se interessou em alertar os pais sobre envolvimentos homossexuais de seus filhos, fica sempre a esperança de que, após reflexão adulta sobre o que foi ouvido, haja uma conversa aberta, franca, sem preconceitos, e permeada de muito amor e compreensão, a fim de que o peso do segredo — caso realmente se tornem verdadeiras as dúvidas levantadas — deixe de pesar na consciência do jovem ser humano que, como sabemos, não fez uma opção sexual, mas simplesmente obedece aos chamados do corpo, biologicamente explicáveis.
Fico imaginando o que deve sentir um filho quando, diante da possibilidade de ter sua vida homossexual colocada em dúvida, deparar-se com a fúria de pais afirmando quase aos gritos, de forma desesperada, que o filho não é e nunca foi gay ou lésbica, e ponto final.
Imagino a sensação de solidão, abandono, desesperança no futuro que sente um homossexual no momento em que constata a homofobia explícita na declaração explosiva e desesperada de quem deveria amá-lo incondicionalmente e ser a base de sua estrutura psicológica, mental e emocional.
Pior ainda é constatar que entre pessoas ditas cultas e bem informadas, existem aquelas que se vangloriam de seus filhos estarem sendo ativos numa relação homossexual, esquecendo-se de que homossexual é aquele que sente atração sexual e/ou mantém relação amorosa e/ou sexual com indivíduo do mesmo sexo, independentemente de ser, nessa relação ativo ou passivo.
Isso sem mencionarmos que o Dr Drauzio Varella — é um médico oncologista, cientista e escritor brasileiro, formado pela Universidade de São Paulo — em um vídeo na internet, afirma: aqueles que não suportam a ideia de terem que conviver com um homossexual é, na realidade, quem mais precisa de um psiquiatra.
Enfim, um pedido aos pais que porventura, em algum momento, tomarem conhecimento de uma possível opção homossexual de seus filhos: não sejam homofóbicos, ou hajam como tal, pensem que a última pessoa de que seu filho precisa diante do inevitável, é de pais homofóbicos: eles precisam de amor, muito amor incondicional, só possível vindo de verdadeiros pais.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
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