VELLONI E EU

VELLONI-P&B“Nhec nhec nhec / A veia é de amargar / Nhec nhec nhec / Ela não para de tocar…”

Barnabé
Conheci pessoalmente Velloni em outubro de 1992 quando de minha posse na Cadeira número 8 – Patrono Padre Euclides – na ALARP- Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto, onde Velloni ocupava, desde 1986 a Cadeira número 23.
Voltamos a nos encontrar em diversos posses solenes e saraus — em que nosso ator ribeirãopretano fazia questão de declamar emocionado, expressando-se por meio de gestos largos e com o olhar de quem muito já havia vivido, voltado para algo no vazio, em busca, talvez, dos versos que por vezes se escondiam dentre as múltiplas outras palavras do seu sexagenário universo — promovidos pelo sodalício, dentre eles um realizado numa noite cálida de primavera, em um final de outubro, em que compareci a uma especial reunião solene de posse na ALARP atendendo aos convites do presidente na época , Dr Luiz Gaetani, e da homenageada, Profa. Dra. Sônia Maria Villela Bueno, minha cara amiga , Soninha.
Ao som da música suave do Coral do Centro Médico, permeando discursos e homenagens, viajei no tempo — ao lado do eterno vereador e amigo , José Velloni, e da escritora Lucilia Junqueira de Almeida Prado — e voltei ao anfiteatro do SESC passados dezesseis anos de minha posse, e pressenti, de forma indelével, presenças de pessoas que foram pedras — Velloni uma delas —, verdadeiras rochas, que consolidaram a existência dessa Academia .
Voltei a me encontrar com Velloni— que chegou ao evento acompanhado de seu filho, Valério — em março de 2012, durante Gincana Cívico-cultural promovida pelo Colégio Anchieta. Na oportunidade fiz o convite ao amigo de Mazzaropi para participar de uma homenagem que os alunos prepararam em comemoração aos 100 anos de nascimento do nosso Jeca mais importante:
Nosso último encontro terminou com uma foto clicada em minha sala de coordenação: uma grata lembrança.
Costumam dizer que as pessoas, em geral, falecem em dias próximos de seus aniversários.
Veloni cumpriu à risca.
Nasceu em Vargem Grande do Sul, em 05 de novembro de 1920 e nos deixou, numa madrugada de quinta-feira, em novembro de 2014 — estava internado há cinco dias, após sofrer uma queda, e morreu de complicações devido ao estado de saúde e à idade avançada — após 94 anos de serviços prestados, em diversas áreas, aos seus contemporâneos.
Cursou a Escola de Belas Artes e São Paulo, seguindo sua carreira de artista plástico, pintura, desenho, escultura. Dedicou-se ao campo da caricatura produzindo charges para a televisão e jornais. Artista plástico deixou sua marca na pintura, desenho, escultura. Dedicou-se ao campo da caricatura produzindo charges para a televisão e jornais.Militou nos jornais de São Paulo e Rio de Janeiro. Trabalhou em todas as emissoras radiofônicas de Ribeirão Preto e no interior do Estado. Criou e dirigiu programas de grande penetração como: Portal da Glória, Essa é a sua Vida, Seu Raimundo, Cadeira de Barbeiro, Vai graxa ai Doutor? , Cultura está na Praça e outros. Poeta e compositor musical com várias músicas gravadas e poesias publicadas, é autor do hino oficial da cidade paulista de Osvaldo Cruz. Também foi dublador de filmes, escultor e decorador.
Parafraseando o genial escritor, Guimarães Rosa, quero acreditar que artistas não morrem, viram estrelas: luzes no infinito que não param de tocar (tal qual a sanfona da veia), com os bons exemplos de suas vidas, os nossos corações.
Até outro dia, meu amigo Velloni, quando voltaremos, quem sabe, a nos encontrar nos saraus celestes do Grande Poeta/Arquiteto do Universo.
Lembrando Oswaldo Montenegro, escrevo seu nome numa lista de grandes amigos… que (por enquanto) não encontrarei mais.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

ACADEMIAS, ALARP-Academia de letras e Artes de Ribeirão Preto, Colégio Anchieta, EDUCAÇÃO