LI E GOSTEI: PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN

ATINGIDO POR UMA BALESTRA

Se você não tem filhos e pretende tê-los : não leia o livro Precisamos falar sobre o Kevin.
Se você tem filhos adolescentes: você precisa ler esse livro de Lionel Shriver.
Se você trabalha com Educação e convive com crianças e jovens adolescentes: é uma obrigação conhecer Kevin Khachadourian , ou KK.
Conhecendo as angústias e preocupações de Eva fundadora e principal executiva de uma bem sucedida empresa de guias de turismo alternativo, descendente de armênios e cidadã do mundo, casada com Franklin, um americano-padrão – mãe de nosso psicopata, descobrimos, nos EUA ou aqui, que os alunos, mães, professores e seus colegas são todos iguais: só muda o palco onde as peças teatrais são sempre as mesmas, mas com atores diferentes.
Sobre o livro, O Globo disse: “ Um livro obrigatório por inúmeras razões; uma bofetada a cada página. Nunca gostei de apanhar, mas esse livro me nocauteou e ainda terminei dizendo quero mais.”, e a revista Veja : “ Um livro polêmico e primoroso. A obra se tornou um best-seller – merecidamente. Uma de suas grandes qualidades está na forma como a escritora evita os estereótipos.”.
Para falar de Kevin Khatchadourian, 16 anos – o autor de uma chacina que, após matar o pai e a irmã mais nova, liquidou sete colegas, uma professora e um servente no ginásio de um bom colégio dos subúrbios de Nova York -, Lionel Shriver não apresenta apenas mais uma história de crime, castigo e pesadelos americanos: arquiteta um romance epistolar – cada capítulo é uma carta escrita para o pai de Kevin – em que Eva, a mãe do assassino, escreve cartas ao marido ausente. Nelas – entre uma visita e outra à Casa de Detenção, Claverack, onde o filho está preso – ao procurar porquês, constrói uma reflexão sobre a maldade e discute um tabu: a ambivalência de certas mulheres diante da maternidade e sua influência e responsabilidade na criação de um pequeno monstro.
Precisamos Falar Sobre Kevin discute casamento e carreira; maternidade e família; sinceridade e alienação. Denuncia o que há de errado com culturas e sociedades contemporâneas que produzem assassinos mirins em série e pitboys. Um thriller psicanalítico no qual não se indaga quem matou, mas o que morreu. Enquanto tenta encontrar respostas para o tradicional “onde foi que eu errei?” a narradora desnuda, assombrada, uma outra interdição atávica: é possível odiarmos nossos filhos?
Um livro ótimo para se trabalhar conceitos de psicopedagogia, psicologia, tanto no aspecto psicológico individual quanto sistêmico: podendo-se até, creio eu, relacionar teoria psicanalítica de Melanie Klein com os comportamentos observados no livro.
Em tempo: esse livro teve sua adaptação para o cinema dirigida pela premiada cineasta escocesa Lynne Ramsay. O filme, que traz no elenco Tilda Swinton, John C. Reilly e Ezra Miller, estreou na mostra competitiva de Cannes e foi eleito o melhor do Festival de Londres. Tilda Swinton, que interpreta a protagonista, Eva, foi indicada ao Globo de Ouro de melhor atriz.
Enfim, ler Precisamos falar sobre o Kevin é para nós, pais, como ser atingido pelas flechas da balestra de Kevin: os ferimentos na alma e no coração serão eternos.
CAPA-PRECISAMOS-FALAR-SOBRE-O-KEVIN
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
WWW.tortoro.com.br

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