LI E GOSTEI: O LADRÃO DO TEMPO

OS 256 ANOS DE MATTHIEU ZÉLA

“Todos os dias que Adão [viveu] foram novecentos e trinta anos; e morreu.”
Gênesis 5:5

Por ter lido e gostado do livro mais célebre de John Boyne, O menino do pijama listrado, resolvi ler o primeiro romance desse escritor irlandês de Dublin: O ladrão do tempo.
Um livro é uma metáfora a ser decifrada.
Um “vampiro”, ou ladrão, que não tem herdeiros, e que suga o tempo de vida de seus familiares: uma linhagem infeliz dos DuMarqué.
Um romance que percorre nove gerações em duzentos e cinquenta e seis anos e que termina com o nascimento de Eva DuMarqué logo após a virada do século, no ano 2000 quando Zéla,nascido em 1758, olhando para o espelho percebe: “Mas, ao olhar mais de perto, percebi algumas rugas pequenas sob os olhos, onde, algumas semanas antes, não havia nada. E meu cabelo, sempre com um atraente tom grisalho, parecia ter começado a embranquecer. E debaixo da orelha esquerda se espalhava uma marca escura, perigosamente parecida com uma manha senil. Encarei meu reflexo, chocado, e prendi a respiração. Puxei a pequena corda ( que acendia/apagava a lâmpada acima da pia) com um movimento abrupto e a luz se apagou”.
Um sonho de consumo do meu velho pai, hoje com 91 anos: viver por séculos mas com a idade de, no máximo, 50 anos.
Um conto que faz lembrar os centenários personagens bíblicos Matusalém, 969 anos; Adão, 930; Sete, 912; Enos , 905; Cainã, 910; Maalalel, 895: mas vivido pelo personagem Matthieu Zéla que não morre, apenas fica mais e mais e mais velho.
Uma história única, com 561 páginas — que acontece principalmente na França, Inglaterra, Itália, Estados Unidos — em que o personagem principal conhece incontáveis tipos de gente: sujeitos honestos e trapaceiros, homens virtuosos que tiveram um único momento de insanidade arrebatadora, canalhas e mentirosos, assassinos e carrascos, juízes e criminosos, trabalhadores e preguiçosos, charlatões lendo discursos que não escreveram, homens que mentiram para suas esposas,mulheres que traíram seus maridos, pais que insultaram seus filhos, descendentes que amaldiçoaram seus ancestrais, bebês que nasceram e adultos que morreram, salvou necessitados de ajuda e matou.
Em resumo: “ O ano é 1758 e Matthieu Zela resolve abandonar Paris e fugir de barco para a Inglaterra, depois de ter testemunhado o assassinato brutal da mãe pelo padrasto. Apenas um garoto de quinze anos na época, ele leva consigo o meio-irmão caçula, Tomas, criança que se vê impelido a proteger.
Começando com uma morte e sempre em busca de redenção, a vida de Zela é marcada por uma característica incomum: antes que o século XVIII acabe, ele irá descobrir que seu corpo parou de envelhecer. Sua aparência é de um homem de cinquenta anos, mas o tempo passa e seu físico continua imutável. Ele simplesmente não morre e não faz ideia de qual seja a razão para que isso ocorra.
Ao final do século XX, ele resolve olhar para o passado e rememorar sua experiência de vida, incomparável à de qualquer outro ser humano. Da Revolução Francesa à Hollywood nos anos 1920, da época das Grandes Exposições à quebra da Bolsa de Nova York, Zéla transitou por inúmeros lugares, exerceu diversas profissões — foi soldado, engenheiro, cineasta, investidor, executivo de TV — e conheceu pessoas notáveis, além de ter se apaixonado por muitas mulheres. Mas, mesmo séculos depois, ele continua certo de que seu verdadeiro amor foi Dominique Sauvet, uma jovem que conheceu no barco que tomou com o irmão para escapar da França. O trio se uniu para começar a nova vida na Inglaterra e Matthieu se viu totalmente encantado por Dominique.
Com uma trama absolutamente instigante de amor, morte, traição, oportunidades perdidas e esperança, John Boyne já anunciava neste primeiro romance o seu talento inconfundível de exímio contador de histórias”.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br
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