GÊNESE DO 11 DE SETEMBRO
“Quando rejeitamos uma única história, quando percebemos que nunca há apenas uma história sobre nenhum lugar nós reconquistamos um tipo de paraíso”
Chimamanda Adichie
Encontrei no YouTube uma palestra da escritora, contadora de histórias, a nigeriana Chimamanda Adichie: O perigo de uma única história.
No vídeo ela diz que é impossível falar sobre uma única história sem falar sobre poder.
E prossegue: “ Há uma palavra da tribo Igbe, a palavra ‘nkali’ que quer dizer ‘ser maior do que o outro’.Como nossos mundos econômico e político, histórias também são definidas pelo princípio do ‘nkali’. Poder é a habilidade de não só contar a história de uma outra pessoa, mas de fazê-la a história definitiva daquela pessoa. A conseqüência de uma única história é essa : ela rouba das pessoas sua dignidade. O escritor nigeriano Chinua Achebe fala da necessidade de ‘um equilíbrio de histórias’. Histórias importam. Muitas histórias importam. Histórias têm sido usadas para expropriar e tornar maligno. Histórias podem destruir a dignidade de um povo, mas histórias também podem reparar essa dignidade perdida”.
Por esses e outros motivos passei a ler o livro publicado em 2002, “Confronto de fundamentalismos – Cruzadas, jihads e modernidade” de Tariq Ali, escritor paquistanês que estudou na Universidade de Oxford e é editor da New Left Review.
Busquei não ficar com somente com uma história sobre o que aconteceu antes do dia 11 de setembro de 2001: a contada pela mídia atual.
Na capa do livro uma montagem que apresenta um híbrido de George W. Bush e Bin Laden deixa clara a posição do escritor: tanto EUA quanto o Islã são lados “opostos” de uma mesma moeda: o fundamentalismo — o religioso versus o imperial, o uso do poder militar desproporcional de um lado e um fanatismo cuidadosamente denunciado por seu oposto.
Como diz Helena Sut : Ler Confronto de Fundamentalismos – Cruzadas, Jihads e Modernidade, de Tariq Ali, é compreender os fatos da modernidade e seus paradigmas numa perspectiva histórica. As três religiões, cristianismo, judaísmo e islamismo, são apresentadas desde o berço no oriente. Suas relações, aproximações e dissensões e influências produzidas durante a Idade Média, o Renascimento e as grandes guerras que marcaram o cenário mundial no século XX são apresentadas em paralelo com a concepção da jirah. A leitura é instigante e explica as formações das diversas facções dentro do islamismo, as raízes do wahhabismo que até hoje domina a sociedade na Arábia Saudita, o sionismo, a formação do Estado de Israel, a guerra dos seis dias em 1967, a ocupação dos territórios da Cisjordânia e Faixa de Gaza, o nacionalismo árabe, a jirah islâmica contra nacionalistas seculares e marxistas, o fim súbito da guerra fria, a guerra Irã-Iraque, a guerra do Golfo, a tensão entre a Índia e o Paquistão e outros tantos fatos históricos, sociais e políticos que culminaram no fatídico 11 de setembro. Tariq Ali não se limita às críticas ao imperialismo norte-americano, ele expande suas observações para o cenário mundial, com perspectivas religiosas, políticas, econômicas e sociais e, inclusive, traz ao lume as opiniões de Samuel Huntington, autor de O Choque das Civilizações, e Francis Fukuyama”.
Enfim, “Confronto de fundamentalismos” é um painel abalizado para a compreensão do cenário global após 11 de setembro, revelando como as imagens do Império americano digeridas como um novo projeto de emancipação estão fatalmente equivocadas.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
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