“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo perdeste o senso!”
Olavo Bilac
Num certo dia de verão, mais precisamente em fevereiro de 2015, recebi um e-mail em que Ely Vieitez Lisboa me perguntava se eu daria autorização para que um de meus poemas fosse publicado em um CD, juntamente com trabalhos de outros quarenta e dois poetas.
Ely sabe que um pedido dela é sempre uma ordem, principalmente após ter sido informado de que os poemas seriam lidos por minha outra grande amiga e também, da mesma forma que Ely, colega de ARL-Academia Ribeirãopretana de Letras e de ARE- Academia Ribeirão-pretana de Educação, Irene Coimbra: quem as conhece sabe que se trata de uma dupla da pesada quando o assunto é divulgar cultura em Ribeirão Preto.
Aceito o convite, fui convocado para criar uma capa para esse CD que seria distribuído, gratuitamente, para, principalmente, instituições que trabalham com deficientes visuais em todo o território nacional.
Mas não era só isso: fui incumbido de criar uma apresentação de quarenta e seis slides a serem apresentados aos presentes, no dia 25 de abril — quando do lançamento da Revista Ponto & Vírgula e do CD Poetas de Ribeirão Preto —, que levam como fundo o quadro “Luz na noite profunda” do poeta e artista plástico Marcos Moreira.
Em relação a essa obra de Marcos, que foi utilizada como capa do CD, posso afirmar que ela é apropriada ao conteúdo do CD — poemas do mais alto nível —, uma luz na noite profunda em que vivem aqueles que perderam o sentido da visão: um som (palavras) que é luz (poesia) num universo em que prevalece a escuridão física.
Penso que, não só para os deficientes visuais mas para todas as pessoas que ouvirem Irene nas suas declamações dos poemas — como era regra no mundo antigo, quando a leitura se legitimava no outro , no ouvinte — será enriquecedor conhecer um pouco da produção literária de nossa Ribeirão Preto.
Também espero que a divulgação do CD sirva como incentivo à realização de leituras/declamações de poemas nas escolas e nos saraus — quanta saudade das declamações de Nilva Mariani, Jorge Arévalo, Maria Lúcia Cardoso, Veloni e outros, nos saraus das Academias ARL e ALARP, realizados no início da década de noventa — ”colaborando com a melhoria de discursos, palestras, sustentações orais, aulas , sermões nas igrejas, evitando cacofonias de vozes descontroladas — por vezes inaudíveis — frases atropeladas, palavras mal pronunciadas, enfim, tentar coibir o rebaixamento geral da expressão verbal e até a perda do conhecimento da própria língua que é mais língua do que nunca quando falada e ouvida, segundo Marcelo Navarro Ribeiro Dantas – Desembargador Federal.
Por isso o CD Poetas de Ribeirão Preto é um trabalho feito com muito amor e que somente será bem recebido por aqueles que sabem o que é amar: “Pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas”.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br