UM DESAFIO DIÁRIO
“Ética (como conjunto de princípios e valores) e moral ( a prática que se desdobra a partir deles) são algo a ser vivenciado no dia a dia”.
Mario Sergio Cortella
Diariamente cuido da vida escolar de aproximadamente quatrocentos alunos.
Isso corresponde estar, de alguma forma, interferindo na rotina de quatrocentas famílias.
Considerando-se , no mínimo, três pessoas por família, posso dizer que, de alguma forma, minha atividade profissional alcança, no mínimo, mil e duzentas pessoas.
Primeiramente quantas são as formas diferentes que essas pessoas vêm a Educação e o conceito de Ética ?
Impossível calcular, mas bem fácil concluir que, se tentarmos descobrir, a tarefa será, posso garantir, insana.
Pois vejamos.
Educar é tarefa permanente. E, evidentemente, não se dá apenas em sala de aula.
No seu sentido mais amplo, educação significa o meio em que os hábitos, costumes e valores de uma comunidade são transferidos de uma geração para a geração seguinte. A educação vai se formando através de situações presenciadas e experiências vividas por cada indivíduo ao longo da sua vida.
Como são variadas as faixas etárias, múltiplos os meios, os costumes e valores, e como são infinitas as situações e experiências presenciadas por cada um desses mais de mil e duzentos indivíduos com os quais me relaciono, em atividades no Colégio, preciso ter firmemente estabelecida uma linha de conduta; mas também preciso contar com uma certa flexibilidade para resistir, e não sucumbir, aos efeitos mentais e psicológicos, pelo simples fato de originarem-se daí as infinitas variáveis nas formas de convivência.
E então, eis o papel do livro de Cortella: dar alguma direção e esperanças a quem sobrevive nesse emaranhado de sentimentos, valores, dúvidas, medos, etc.
Em uma entrevista o autor, falando sobre seu livro, resumiu as bases do que devemos ter em mente durante o processo de escolarização, que é somente uma parte da Educação:
“O primeiro passo é ter uma esperança ativa, isto é, ter uma expectativa positiva que se vá buscar. De nada adianta imaginar que o bem precisa ser feito – e precisa ser bem feito –, se isso fica apenas no terreno do desejo. É preciso tornar o benefício em algo que Paulo Freire chamava de “o inédito viável”: em aquilo que ainda não é, e que por isso é inédito, mas que pode ser feito, e que por isso é viável.
O segundo passo é sabermos quais são os vários caminhos necessários tomar em relação aos valores. Por isso, não basta apenas ter a esperança ativa, mas também ter em mente quais são os princípios e valores que desejamos. Nós, quando construímos a possibilidade de fazer o bem, temos que refletir sobre o modo como isso irá influenciar as nossas ações. Trata-se, portanto, de sair do campo do abstrato e partir em direção a atitudes práticas de nosso cotidiano em nossa casa, na escola, na família, na sociedade, no lazer, na mídia, na religião, enfim, é fazer o bem sabendo o que se faz (portanto, com consciência), e sabendo onde se deseja chegar (portanto, com meta). Acima de tudo, devemos estimular um desejo que seja higiênico, que impliquem em atitudes limpas (e não fingidas): a ética não é cosmético, não é algo que devemos exibir apenas como enfeite de fachada. É preciso praticá-la”.
“Educação, convivência e ética – audácia e esperança” — uma obra com reflexões urgentes para pais, docentes e educadores — nos permite uma leitura agradável porque utiliza muitos exemplos do cotidiano das pessoas para exemplificar dilemas éticos.
Enfim, conclui Cortella: “é preciso que nós, educadores, nas escolas, nas organizações não governamentais, nos governos, nas entidades de apoio, nas empresas, na família, tenhamos idéias para sustentar o mundo e a decência com as futuras gerações”.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
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