Todos conhecemos uma expressão muito popular usada quando queremos dizer a uma pessoa que o que ela está propondo não é tão fácil como possa parecer: é um alerta a quem está querendo dar trabalho para os outros, mas não se propõe a trabalhar, ou a encontrar meios, no sentido de se obter o objetivo proposto, ou seja, quer ficar na moleza.
A expressão possivelmente pretende se referir ao fato de que algumas pessoas querem tomar o leite, mas não querem ter o trabalho de tirar, transportar e ferver o leite da vaca…antes de tomá-lo, ou mamá-lo.
Mas vamos aos fatos.
Li no jornal O Diário, de 15 de julho de 2015, a notícia: “Sancionada lei – no. 13.554/2015 – de autoria do vereador Bebé sobre transparência das casas de repouso”.
As obrigações cobradas das Casas pela tal lei seriam excelentes se vivêssemos na Suécia ou em qualquer país em que os governos dessem o exemplo de respeito ao idoso: o que não é o caso do Brasil pois é só vermos a situação de nossos aposentados.
Ao final da notícia, são elencados os órgãos que serão informados sobre a aprovação da lei , ou seja, os órgãos que deverão ajudar na cobrança da execução da lei: Conselhos Municipal, Estadual e nacional do Idoso, Coordenadoria do Idoso de Ribeirão Preto, Ministério Público, Juízo da Vara do Idoso da Comarca de Ribeirão Preto, Comissão Permanente de Direitos da Mulher, da Criança, do Adolescente e do Idoso Vítimas de Violência ou em situação de Risco , da Câmara Municipal de Ribeirão Preto.
A justificativa do vereador Bebé para a criação da lei é a seguinte: “ Nós, legisladores, temos que tomar providências, evidentemente dentro de nossa competência, visando cessar esses absurdos que acontecem contra a terceira idade”. E por falar em absurdo contra a terceira idade : um deles, por exemplo, é não haver dinheiro suficiente para acolhimento de TODOS os idosos em situação de risco, mas se gastar milhões em uma reforma do prédio da Câmara.
Então vejamos.
Desde de janeiro de 2015, eu e minha irmã lutamos um bom combate, diante da impossibilidade de meus pais idosos ( pai com 91 anos e mãe com 86 ) continuarem vivendo sozinhos ( como sempre foi o desejo deles) em residência própria por mais de cinqüenta anos.
E nesse combate solicitamos, ou melhor, imploramos, ajuda desses mesmos órgãos citados acima, no sentido de encontrarmos um local digno que poderia acolher meus pais, a um preço dentro de nossas possibilidades financeiras de assalariados.
E sentimos na pele a triste realidade: ou a assistência é gratuita — e por meus pais terem uma aposentadoria e terem filhos que cuidam deles, ou seja, não são indigentes e nem abandonados — não seria possível acolhê-los, ou então, nas clínicas de luxo os preços são simplesmente exorbitantes para o bolso de qualquer filho assalariado.
Logo, os filhos com pais idosos, em situação de risco, não têm ajuda de ninguém: mas sobram órgãos para ameaçá-los e condená-los caso algo ocorra com os idosos que não dão alternativas aos seus possíveis responsáveis/cuidadores.
Isso posto, sugiro ao nobre vereador, e àqueles seus pares que aprovaram a lei, que providenciem verbas suficientes e necessárias para que as Casas que hoje fazem um trabalho incrível de atendimento aos idosos, como por exemplo a Casa do Vovô, recebam verba capaz de atender à uma demanda que cresce a cada dia, na mesma proporção que crescem as cobranças de quem só quer mamar na vaca.
Também sugiro que ao invés de fecharem casas — como tem ocorrido — que atendem, de alguma forma , os idosos da população mais carente, que usem a mesma força da lei — com que ameaçam filhos e demais parentes de idosos — para obterem dos governos (municipal, estadual e federal) verbas para criação de novas e adequadas Casas de Atendimento aos Idosos: assim não estarão só mamando…mas ajudando a tirar, transportar e ferver o leite da vaca…antes de tomá-lo, ou mamá-lo.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br