JAPONÊSES E PRÊMIOS JABUTI
“As palavras não foram inventadas para serem desperdiçadas”
Acabo de ler Nihonjin, de Oscar Nakasato, vencedor do Prêmio Jabuti 2012.
Livro escolhido em meio a uma polêmica criada com a nota dada ao livro pelo crítico literário Rodrigo Gurgel, Nihonjin também merece meu humilde dez por ter-me propiciado conhecer um pouco mais sobre a saga desse povo guerreiro e trabalhador, cuja cultura milenar me encanta há muito.
Sobre japoneses eu já havia lido o livro de outra escritora, Prêmio Jabuti de 1986, Lucília Junqueira de Almeida Prado, um romance envolvente, uma homenagem aos imigrantes japoneses que ajudaram a construir o Brasil de hoje, um resgate do passado.
Intitulado “Sob as Asas da Aurora”, o livro de Lucilia, com pouco mais de duzentas páginas conta a saga de um grupo de imigrantes japoneses, que desembarcaram em terras brasileiras alimentando o sonho de fazer fortuna e retornar ao país de origem. No entanto, os rumos dessa história, baseadas nos relatos de Missayo Arassuna, personagem real que fez parte da infância da autora, foram diferentes dos planejados ainda em solo japonês.
O mesmo ocorre com os personagens de Oscar Nakasato que, segundo a Comissão julgadora do Prêmio Benvirá “é antes de tudo uma competente reconstrução histórica da imigração japonesa, tema pouco presente em nossa literatura. Sua força literária está não apenas na linguagem direta e sem firulas, nos personagens e nos conflitos marcantes, mas também no poder de comover o leitor. Independente de nossa origem étnica, o romance de Oscar Nakasato emocionou a todos que se identificaram intensamente com os personagens e os conflitos narrados “.
Em Nihonjin (japonês) Hideo Inabata é um japonês orgulhoso de sua nacionalidade, que chega ao Brasil — Fazenda Ouro Verde, interior do Estado de São Paulo — na segunda década do século XX, época da Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de enriquecer e cumprir a missão sagrada de levar recursos ao Japão, conforme orientação do Imperador aos seus súditos. “Hideo era uma ponte firme que levava seus filhos ao Japão. Ponte de concreto, construída ao longo dos anos, com pilares grossos, fincados na terra, sobre a água turva. Por que, então, Haruo não a atravessava? “.
Sem intenção de recuperar o tema com minúcias históricas, Nakasato fala diretamente aos nossos corações sobre o árduo trabalho no campo, a difícil adaptação ao Brasil, a morte da frágil Kimiê, primeira esposa, esperando pela neve cair sobre o cafezal, Shizue, submetida pela tradição, mas capaz de revelar inusitada sabedoria, e os conflitos com os filhos Haruo e Sumie: testes para a inflexibilidade do nihonjin. O narrador, neto do protagonista e filho de Sumie, mãe ensombrecida, empresta voz e visão contemporânea à transformação do avô e do seu sonho de voltar rico para casa, transformando dramas individuais ou familiares em síntese dos conflitos humanos.
Nihonjin é uma história particular, que mostra a origem multicultural do Brasil em tempo e lugares ainda pouco explorados na literatura brasileira. É também um romance universal, em que até o mais duro ser humano se dobra às mudanças imperiosas do lugar, do tempo e do coração.
As palavras não foram inventadas para serem desperdiçadas: uma lição que Lucília e Nakasato mostram conhecer.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
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