LI E GOSTEI: A ENGENHOSA LETÍCIA DO PONTAL

 

GAIVOTAS PÁGINAS.

“Para ficarmos sãos, há que nos fazermos loucos”.

Ganhei de presente um exemplar de A engenhosa Letícia do Pontal, de Carlos Nejar, do meu amigo/irmão, o escritor Waldomiro Peixoto.
E deparei-me com uma Nuvem capaz de enlouquecer qualquer leitor menos atento porque é uma obra, digamos, pesada para quem não está habituado a ler e interpretar poesia.
Não é um livro que você pode ler com pressa ou numa tirada só: ele precisa ser degustado, cada frase deve ser lida e relida para podermos extrair dela um certo feitiço.
E é assim porque, como afirma Luis Fernando Verissimo, nas orelhas do livro : “Não são só os poetas que tem o sortilégio da palavra. Também o têm os romancistas, e os ensaístas, e os polemistas, e os oradores, e os camelôs, e, pensando bem, os vigaristas. Mas os poetas são como feiticeiros, que trazem para qualquer atividade que exerçam – da medicina à corretagem na Bolsa – a vantagem do seu dom especial. Neles o sortilégio não é um aprendizado ou um mero talento, mas uma predestinação, que nem eles sempre entendem, e afeta tudo o que tocam. Assim um poeta fazendo um romance é um pouco como um feiticeiro na cozinha, que usa os mesmos ingredientes e temperos e técnica de um chef comum mas não pode evitar que o seu ensopado seja mais do que um ensopado, que tenha mais significados e serventias, que seja um caldeirão de poções e encantações mágicas. Ou seja, que se impregne do feitiço. Este romance – se é que é um romance – do Nejar é isto, uma boa e substanciosa refeição literária feita por um mágico, portanto muito mais do que isto. Um romance construído com poesia em que a poesia é maior do que as suas partes. E poesia marca Nejar, epigramática e arrebatada ao mesmo tempo, meticulosa e sensual e, neste caso, também cheia de humor. Prepare-se, leitor, para enfrentar as pás do tempo como aquele Cavaleiro Iluminado. Está chegando a Nuvem.”
Afonso Romano de Sant’Ana já disse que “a poesia sensibiliza qualquer ser humano. É a fala da alma, do sentimento. E precisa ser cultivada”.
Mas também Pinheiro afirma que “a leitura do texto poético tem peculiaridades e carece, portanto, de mais cuidados do que o texto me prosa.” Em sendo assim, a poesia não é de difícil interpretação: apenas necessita de mais cuidado e atenção para que ocorra um entendimento da mesma. A aprendizagem da interpretação da poesia compreende o desenvolvimento de coordenar conhecimentos dos vários sentidos que um texto poético proporciona. A interação com a poesia é uma das responsáveis pelo desenvolvimento pleno da capacidade linguística, a partir da criança e do adolescente, através do acesso e da familiaridade com a linguagem conotativa, e refinamento da sensibilidade para a compreensão de si própria e do mundo, o que faz deste tipo de linguagem uma ponte imprescindível entre o indivíduo e a vida.
E isso torna A engenhosa Letícia do Pontal uma obra de arte quase hermética para aqueles que não estão acostumados com esse tipo de literatura porque fala de Letícia.
Mas quem é Letícia?
“Letícia é uma quixote de saias em busca do seu moinho. Que mistérios rondam Letícia do Pontal? É uma bela mulher? Ou é a imagem do feminino que se projeta no céu? Aquele céu que nos protege e nos condena a vagar atrás dos nossos desejos. A engenhosa Letícia do Pontal, do grande poeta e acadêmico Carlos Nejar é uma alegoria sobre o homem e o tempo, sobre a poesia do mundo que jorra suas sábias palavras através de Letícia – uma nuvem que nos espreita.
Considerado pelo autor como sua obra máxima, o livro é fruto de um trabalho de 16 anos, que reúne e justifica sua criação. Através de uma linguagem muito própria – onde poesia e prosa se misturam o tempo todo – Nejar revela a nossa alma quixotesca. Os ideais que se desenham no horizonte, nesta tênue linha que nos separa da ilusão.
É uma alegoria sobre o homem e o tempo. Seu texto impõe-se como fábula de amor e guerra, das grandezas e fraquezas do coração. O reino do maravilhoso encontra seu fiel intérprete, onde o humor se mescla à sátira e à paródia, o lirismo à sabedoria das mais estranhas experiências”.
Sejam bem-vindos, convidados a “percorrer essas gaivotas páginas”.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
www.tortoro.com.br
ancartor@yahoo.com

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