Na noite de 31 de março de 2017 foi lançado, no Theatro Pedro II, Sala dos Espelhos, o livro MEMÓRIAS DE UMA ESCOLA – 110 ANOS DO OTONIEL MOTA, como parte das comemorações do aniversário de um colégio que é tradicional referência de ensino no coração de Ribeirão Preto, na rua prudente de Morais.
O livro foi publicado pela IPCCIC (Instituto Paulista de Cidades e Identidades Culturais).
Foi patrocinado pela Usina Alta Mogiana e teve o trabalho de criação da obra Adriana Silva e Lilian Rodrigues de Oliveira Rosa ( Membro da ARE- Academia Ribeirão-pretana de Educação).
Meu depoimento encontra-se nas páginas 113 a 118 sob o título “ ALUNO, PROFESSOR, POETA”.
TEXTO LIDO POR MIM NO EVENTO:
Não sou nada, disse Álvaro de Campos.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
E é dos meus sonhos
Que aparto meus poemas
Desde meus tempos de Estadão
Quando eu inocentemente poetava:
Poeta é o ser que na rosa
Vê os lábios da formosa
Mulher que o deixou.
Poeta é o ser que todo dia
Vive na fantasia,
Enaltece quem não o amou.
Poeta é o ser que tem a ventura
De encontrar na natura
A sua seiva vital.
Poeta é o ser que vê na antese
A virgem que se oferece
Numa noite angelical.
Poeta é o que ama a liberdade,
Que mais forte sente a saudade
E as chagas de uma dor.
Poeta é o ser que ama a vida,
Que em palavras sentidas
Escreve versos de amor.
Poeta é o ser que ao sentir a desgraça,
Nos lábios traz, tão cheio de graça,
Um sorriso que é uma oração.
Poeta, enfim, é o que ama a beleza,
O seu livro é a natureza,
Sua pena o coração.
Poema escrito em 1968 entre os muros
Do Instituto de Educação Otoniel Mota.
Mas, conforme Drummond…
de tudo ficou um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
ficou sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão.
Às vezes um rato.
Às vezes um poema.
Às vezes um pouco da História
Do nosso querido Estadão.
Fotos de Lu Degobbi – Grupo Amigos da Fotografia de Ribeirão Preto.