ELIZETE SACHS NO BOSQUE DAS ÁGUAS

“Aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”.
Antoine de Saint-Exupery

É um Dia do Abraço, um dia chuvoso de outono em que o céu lamenta a perda de novos fraternais abraços.
Mas aquele lugar em que Li se encontra no momento, e que parece mágico, guarda uma aparência familiar: lembra o Clube de Regatas numa manhã ensolarada de final de semana em que os bem tratados jardins, as árvores, as águas do Rio Pardo, o cantar dos pássaros e o ruído das pessoas nas mesas e nas piscinas fazem a alma mais leve, mais harmonizada, mais feliz.
Na grande praça, belíssima, com piso semelhante ao alabastro, muitos bancos se distribuem ao seu redor sendo que, nos espaços restantes, por detrás dos bancos, existem fontes luminosas multicoloridas e, em torno delas flores graciosas e delicadas.
Da mesma forma que no Clube de Regatas aonde chegam veículos particulares, e ônibus trazem centenas de pessoas, também naquele local chegam velozes os aeróbus trazendo pessoas para o chamado Bosque das Águas, a fim de poderem usufruir de alguns momentos de lazer.
Da mesma forma que nos sentimos ao entrar no Clube de Regatas, a sensação é de que, naquele local, existe uma muralha protetora, na qual se encontram assestadas baterias magnéticas protetoras, para defesa contra as arremetidas da realidade que fica lá fora, e com a qual, atualmente, convivemos de segunda a sexta-feira.
Elizete Sachs chegou mais cedo ao local e guarda algumas das mesas espalhadas pela praça colocando sobre elas toalhas e mochila, enquanto pensa sobre a entrega de encomendas que fará na semana seguinte para sua clientela da Malharia Sachs: uniformes escolares, vestuário, calçados, acessórios.
Busca com olhar tranqüilo pela cantina e pela piscina que parecem não existir naquele lugar calmo e cheio de paz, localizado num espaço amplo que tem a forma de estrela de seis pontas.
Ela revira a pequena bolsa em busca de fichas de cerveja e salgados: não estão mais ali. Não encontra nem as fichas de caipirosca que sua amiga Lu, infalivelmente, toma nos encontros de final de semana.
Mas acha o celular, agora inútil, porque a enorme praça não tem wi-fi.
Mesmo assim ela olha pacientemente para a tela do aparelho à espera de um whatsapp, ligação ou Messenger, dos amigos que costumam se reunir todo final de semana na beira do tanque, defronte aos golfinhos na parede de pastilhas: Lu, Toninho, Rod, Valtinho, Cidinha, Walter, Andreza…
Mas ninguém chega, ninguém manda notícias apesar do passar das horas, até que um casal de idosos, possivelmente vindos de Santa Gertrudes, quebra a monotonia da praça ao se aproximar de Elizete: são seus pais um tanto quanto rejuvenescidos, e Elizete sorri para eles, como sorria com os amigos no seu último Carnaval no Regatas.
Trocam entre si olhares ternos, e se entregam a um abraço triplo e prolongado ao som de Gil:
Todo final de semana
Aquele abraço!
Todos os meses de maio
Aquele espaço!
Alô, alô beira do Pardo
Aquele mormaço!
Alô tanque do golfinho
Aquele abraço
Alô, amiguirmã do Regatas
Aquele eterno abraço!

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
WWW.tortoro.com.br

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