AC TÓRTORO: EVITANDO TAUTOLOGIAS NO LIVRO O PASSADO MANDA LEMBRANÇA.

PASSADO-BERGER

“A fotografia é um impulso espontâneo que vem de estar perpetuamente olhando, e que capta o instante e sua eternidade”

Henri Cartier-Bresson

Recentemente o Grupo Amigos da Fotografia lançou o quarto volume de O Passado Manda Lembrança: uma coletânea de 300 fotos antigas, acompanhadas de 300 fotos recentes — tiradas no mesmo local e no mesmo ângulo —, e, tendo junto a elas, textos poéticos.
John Berger, discorrendo sobre a sua amizade com Jean Mohr, e o trabalho com textos e fotos que ambos criaram, escreveu: “Tivemos que compartilhar um senso de medida para criar páginas que fluem. Um livro tem de avançar usando duas pernas, sendo uma as imagens, a outra, o texto. Ambas têm de se adaptar uma ao ritmo da outra. Ambas precisam se contar e não repetir uma o que a outra já fez. O que frequentemente põe em xeque qualquer fluência, quando se usam juntos imagens e texto, é tautologia, a atenuante repetição, quando a mesma coisa é dita duas vezes, uma com palavras e outra com uma foto. Para evitar isso e avançar no mesmo passo da história, é essencial ter um senso de medida. Talvez isso valha também — em outro nível — para todas as amizades de longa duração (de longa caminhada?)”.
Foi assim que Elza e eu, numa amizade de longa duração, trabalhamos nos seis volumes publicados pelo GAF, compostos por fotos e textos: evitando tautologias.
John Berger, diz o seguinte, em relação ao fato de se trazer fotos do passado, para o presente: “Fotografias são relíquias do passado, vestígios do que aconteceu. Se os viventes assumissem aquele passado, se o passado se tornasse uma parte integrante do processo pelo qual as pessoas fazem sua própria história, então todas as fotografias iriam readquirir um contexto vívido, elas continuariam a existir no tempo, em vez de serem momentos capturados. É até possível que a fotografia seja a profecia de uma memória humana ainda a ser social e politicamente adquirida. Tal memória iria abranger uma imagem do passado, mesmo que trágica, mesmo que culpada, dentro de sua própria continuidade. A distinção entre os usos privado e público da fotografia seria transcendida. A Família do Homem existiria”.
Esse sempre foi o objetivo do trabalho do Grupo Amigos da Fotografia.
A missão alternativa dessa possível profecia” é incorporar a fotografia à memória social e política, em vez de usá-la como um substituto que estimula a atrofia de qualquer memória desse tipo”.
Quem teve a oportunidade de conhecer o trabalho, feito pelo GAF, de retomada de fotos antigas, trazendo-as para o presente, concorda com Berger: “Se queremos pôr uma fotografia de volta no contexto da experiência, da experiência social, da memória social, temos de respeitar as leis da memória. Temos de situar a fotografia impressa de modo que ela adquira algo do surpreendente caráter conclusivo que era e daquilo que é”.
Ainda segundo Berger: “O que Brecht escreveu em um de seus poemas sobre representar em teatro é aplicável a essa prática. Por instante leia-se fotografia, por representação, a recriação de contexto:
Assim, você deve simplesmente fazer o instante / Destacar-se, sem esconder no processo / Do que você o está destacando. Dê à sua representação / Aquela progressão de uma coisa após a outra, aquela postura de / Trabalhar aquilo que você assimilou. Desse modo / Você mostrará o fluir dos eventos e também o decurso /De seu trabalho, permitindo ao espectador / Experimentar esse Agora em muitos níveis, vindo do Antes e / Mesclando-se ao Depois, e também tendo o muito outro Agora / Ao lado disso. Ele está sentado não apenas / Em seu teatro mas também / No mundo”.
Segundo as palavras de John Berger, no seu livro, Para entender uma fotografia: “Nunca há uma abordagem única para algo que é lembrado. O que é lembrado não é uma espécie de ponto final no fim de uma linha. Numerosas abordagens ou estímulos convergem para ele e levam a ele. Palavras, aproximações, signos precisam criar um contexto para uma fotografia impressa, de maneira que possa haver comparações; isto é, é preciso marcar e deixar em aberto diversas abordagens. É preciso construir um sistema radial em torno da fotografia, de modo que ela possa ser vista em termos que sejam simultaneamente pessoais, políticos, econômicos, dramáticos, cotidianos e históricos”.
Enfim, fica um convite para que meus leitores conheçam nosso trabalho que traz o passado para o presente, em três momentos, sem tautologias.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

ACADEMIAS, ARE-Academia Ribeirão-pretana de Educação, ARL- ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE LETRAS, ARTIGOS, FOTOGRAFIA