O MENINO QUE NASCEU MORTO
“Viva! Viva! Viva a Sociedade Alternativa! “
Eu me identifiquei com Paulo Coelho em muitos aspectos: também nasci quase morto, descobri coisas sobre sexo nas conversas da molecada de rua, somos do signo de Leão, temos a mesma altura, fiz meus diários, escrevi poemas, leio de tudo que me cai nas mãos, gosto de estudar tudo que se refere ao misticismo, e a religião católica marcou muito minha vida até a adolescência.
Mas somos diametralmente opostos quando o assunto é uso de droga, tipo de música que ouvimos, contato com forças satânicas, sexo promiscuo com centenas de mulheres, relação sexual com o mesmo sexo, malandragens e mentiras, pouca vontade de estudar, e dirigir sem carta de motorista. Atualmente, a diferença maior entre nós está na fama (que não tenho) e nas contas bancárias.
Lendo O Mago, vivi experiências nunca antes imaginadas: senti os efeitos do haxixe, fiquei preso nos porões do DOI-CODI, viajei por diversos continentes, conheci sociedades como a O.T.O, a A.A. e a RAM, senti a presença do Demônio e de Anjos, fiz promessas para São José, Menino Jesus de Praga, para Nhá Chica, passei pelas melhores escolas do Rio de Janeiro.
E também fui às lágrimas lendo a carta que Paulo Coelho escreveu ao seu pai, quando estava internado na Casa de Saúde do Dr. Eiras, no Dia dos Pais: “Deve ser triste ter um filho como eu, meu pai”.
Enfim, O Mago – A incrível história de Paulo Coelho é a história de um menino que nasceu morto, flertou com o suicídio, sofreu em manicômios, mergulhou nas drogas, experimentou diversas formas de sexo, encontrou-se com o diabo, foi preso pela ditadura, ajudou a revolucionar o rock brasileiro, redescobriu a fé e se transformou em um dos escritores mais lidos do mundo.
Fernando Morais volta sua verve investigativa para o personagem brasileiro que se converteu em mito – Paulo Coelho – um escritor que alcançou a marca de 100 milhões de livros vendidos e a façanha de ser o autor vivo mais traduzido de todo o planeta.
Sem medo da polêmica, O Mago desnuda o passado de um homem que viveu intensamente os seus anos loucos. Nenhum tema foi proibido e nada foi tratado de maneira superficial: do desbunde em plena onda hippie à conexão com o misticismo, que transformaria a persona do escritor em guru espiritual das massas. Das práticas de satanismo à peregrinação pelo caminho de Santiago de Compostela. Da Sociedade Alternativa à vida de celebridade pop. Das acusações de plágio à consagração em países tão distantes quanto Rússia e Arábia Saudita.
Nessa devassa consentida, Paulo Coelho entregou seus 170 diários e um baú de relíquias ao genial jornalista investigativo Fernando Morais, que traçou um retrato preciso e impressionante do maior fenômeno literário já visto no Brasil. Paulo Coelho é o autor mais vendido da língua portuguesa de todos os tempos. Foram mais de 150 milhões de exemplares em mais de 150 países. Seus livros foram traduzidos para nada menos que 66 idiomas.
Sobre a natureza chocante das revelações, o biografado revelaria, tempos depois: “Com a leitura de O Mago consegui dormir em paz pela primeira vez em muitos anos”. Se a exposição frenética de tragédias e fraquezas pode parecer agressiva para muitos, para Paulo Coelho foi libertadora.
Ler O Mago é conviver com Raul Seixas e suas músicas inesquecíveis, é sentir o tempo todo o clima da canção protesto Sociedade Alternativa apresentada no primeiro show da dupla Raul Seixas e Marcelo Nova no TCA, Salvador, em outubro de 1988: as imagens do livro permanecem em nossas mentes, martelando no mesmo ritmo dos pés que agrediram o chão do palco naquele dia.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
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