LI E GOSTEI: KAFKA E A BONECA VIAJANTE

CAPA KAFKA E A BONECA VIAJANTE

CARTEIROS DE BONECAS

“Os poetas fazem castelos no ar, os loucos moram neles, e alguém, na vida real, cobra o aluguel”

Acabo de ler, em menos de três horas, as 125 páginas de Kafka e a boneca viajante, um livro escrito por Jordi Sierra i Fabra, baseado numa experiência singular vivida por Franz Kafka: três semanas epistolares tendo como palco principal o parque Steglitz, onde o autor de Metamorfose viajava com os olhos, atraindo energias com a alma, até encontrar a menina Elsi chorando convulsivamente.
Em resumo: “Um ano antes de sua morte, Franz Kafka viveu uma experiência singular. Passeando pelo parque de Steglitz, em Berlim, encontrou uma menina chorando porque havia perdido sua boneca. Para acalmar a garotinha, inventou uma história: a boneca não estava perdida, mas viajara, e ele, um “carteiro de bonecas”, tinha uma carta em seu poder que lhe entregaria no dia seguinte. Naquela noite, ele escreveu a primeira de muitas cartas que, durante três semanas, entregou pontualmente à menina, narrando as peripécias da boneca vividas em todos os cantos do mundo. Inspirado por esta história pouco conhecida de Kafka, contada por Dora Dymant, companheira do escritor na época, Jordi Sierra i Fabra recria as cartas nunca encontradas e que constituem um dos mistérios mais belos da narrativa do século XX”.
Como afirma Richard Stach: “Um escritor não deve apenas saber observar, mas precisa descobrir os signos ocultos naquilo que observa. A elogiada precisão cirúrgica de olhar de Kafka se fazia escritura na transmutação do visível em signo”. E foi esse olhar especial do autor de O processo que nos permite, agora, podermos saborear essa fantástica obra, que recebeu o “Premio Nacional de Literatura Infantil y Juvenil” , de 2007, concedido pelo Ministério da Cultura da Espanha.
Ao ler a história de Brígida, a boneca viajante, descobri que todos nós, em alguns momentos de nossas vidas, precisamos de “carteiros de bonecas”, capazes de receber cartas que só um louco é capaz de escrever: cartas de alguém ou algo que continue a manter nossas esperanças e nos convença de que o futuro não é um problema a resolver, mas um mistério a descobrir.
Por exemplo:
Quando passo por alguns momentos em que a vida não me deixa escolhas, Allan Kardec tem sido o meu “carteiro” e os Espíritos de Luz, a minha Brígida: todas as mensagens que dela recebo podem, um dia, se demonstrar serem somente um sonho, uma fantasia, uma história contada por loucos…mas gosto de acreditar, insisto em ser Elsi, para preservar minha integridade mental.
Em tempo: Brígida, em suas viagens pelo mundo, não passou pelo Brasil.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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