OS TREZE OU MAIS MOTIVOS QUE MATAM AOS POUCOS
“Ninguém sabe ao certo quanto impacto tem na vida dos outros. Muitas vezes não temos noção. Mas forçamos a barra do mesmo jeito”.
Hannah Baker
No meu trabalho diário, convivo com mais de um Justin, Alex, Jessica, Tyler, Courtney, Marcus, Zach, Ryan, Clay, Jenny, Bryce e outros: personagens do livro Os 13 porquês, de Jay Asher, série que gerou polêmica na Netflix.
Alguns alunos que conheço usam outros nomes, mas se relacionam com seus colegas da mesma forma: faltando com o respeito, utilizando-se de colocação de apelidos pejorativos, enviando ofensas via Facebook e Whatsapp, mandando bilhetes ou desenhando nas apostilas, fazendo enquetes sobre a anatomia das colegas, brincam com as dificuldades de entrosamento/relacionamento dos companheiros e seus problemas familiares que porventura vêm à tona ou amedrontando-os com pequenas ameaças de agressão física.
Eles não sabem ao certo quanto impacto têm na vida dos outros.
Muitas vezes não têm noção, mas forçam a barra do mesmo jeito.
Não sabem que distorções cognitivas podem acontecer com pessoas deprimidas, e as idéias de rejeição e abandono acabam sendo sentidas de forma mais intensa.
Nos seus lares não existe diálogo e as questionáveis formas de relacionamento que conhecem dentro de seus lares, eles aplicam nas suas relações com colegas de sala de aula.
O positivo de Os 13 porquês é que ele abre discussão sobre temas que ficam, quase sempre, embaixo do tapete: suicídio entre os jovens, abuso sexual, uso de drogas, bullying, problemas que poderiam ser resolvidos dialogando-se sobre esses assuntos de maneira correta, com alguém que estaria em situação delicada, permitindo que a necessidade de ajuda fosse identificada, aliviando a angústia que poderia levar ao tratamento adequado.
No meu trabalho fico atento a qualquer sinal de incômodo que os alunos demonstram em relação ao tratamento que recebem dos colegas: e converso com os envolvidos durante o tempo que for necessário, tomando todas as medidas cabíveis para resolver os problemas.
Em Os 13 porquês a história é narrada por Clay Jensen, um rapaz que, ao voltar um dia da escola, encontra na porta de sua casa um misterioso pacote com seu nome. Dentro, ele descobre várias fitas cassetes. O garoto ouve as gravações e se dá conta de que elas foram feitas por Hannah Baker, uma garota que cometeu suicídio duas semanas atrás.Nas fitas, Hannah explica que existem treze motivos que a levaram à decisão de se matar. Clay é um desses motivos. Agora ele precisa ouvir tudo até o fim para descobrir como contribuiu para esse trágico acontecimento.
Penso que esse livro deveria ser lido por todos os jovens, juntamente com seus pais, a fim de que tivessem a oportunidade de conversar seriamente sobre cada uma das situações criadas, ficticiamente, pelo autor.
Quem sabe, assim, não mais colaborariam, sem querer, para com a “morte” gradual e progressiva — mas que, felizmente, nem sempre se concretiza — de algum de seus colegas que, mentalmente, morrem um pouquinho a cada “brincadeira” de mau gosto.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br