OS NOVE PORQUÊS?
“Cometer suicídio é como se tornar um deus por alguns segundos. Acabo de me dar conta disso”
Alessandro
Recentemente li o livro Os 13 porquês: o tema é suicídio, na ficção.
Em Os 13 porquês a história é narrada por Clay Jensen, um rapaz que, ao voltar um dia da escola, encontra na porta de sua casa um misterioso pacote com seu nome. Dentro, ele descobre várias fitas cassetes. O garoto ouve as gravações e se dá conta de que elas foram feitas por Hannah Baker, uma garota que cometeu suicídio duas semanas atrás.Nas fitas, Hannah explica que existem treze motivos que a levaram à decisão de se matar. Clay é um desses motivos. Agora ele precisa ouvir tudo até o fim para descobrir como contribuiu para esse trágico acontecimento.
Agora acabo de ler Suicidas, de Raphael Montes: o tema é suicídio, também uma ficção.
Um porão, nove jovens e uma Magnum 608. O que poderia ter levado universitários da elite carioca – e aparentemente sem problemas – a participarem de uma roleta-russa? Um ano depois do trágico evento, que terminou de forma violenta e bizarramente misteriosa, uma nova pista, até então mantida em segredo pela polícia, ilumina o nebuloso caso. Sob o comando da delegada Diana Guimarães, as mães desses jovens são reunidas para tentar entender o que realmente aconteceu, e os motivos que levaram seus filhos a cometerem suicídio. Por meio da leitura das anotações feitas por um dos suicidas durante o fatídico episódio, as mães são submersas no turbilhão de momentos que culminaram na morte dos seus filhos. A reunião se dá em clima de tensão absoluta, verdades são ditas sem a falsa piedade das máscaras sociais e, sorrateiramente, algo muito maior começa a se revelar.
No primeiro livro 13 porquês, e no segundo, 9: sempre motivos que jovens problemáticos encontram para “resolverem” seus dramas pessoais e familiares do dia a dia.
Entre uma leitura e outra , o ex-alto responsável das forças croatas da Bósnia morreu em um hospital de Haia depois de ter ingerido veneno na sala de audiência do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII) em Haia. Slobodan Praljak, 72 anos, afirmou que rejeitava a condenação de 20 anos e depois ingeriu ante as câmeras o conteúdo de um frasco que tirou do bolso. Um suicídio real.
Nem só os jovens se matam, e variados são os motivos para que as pessoas se deixem levar por essa decisão suprema: mas esse ainda é um assunto tabu.
Romance de estreia de Raphael Montes, Suicidas contém vários dos ingredientes que fizeram de seu autor o maior nome do suspense brasileiro, alçando-o às prateleiras de livrarias do mundo inteiro: personagens complexos, temas ousado e uma trama com o ritmo e a crueldade de que só os mestres do gênero são capazes. Conduzido em três linhas narrativas, Suicidas arrebata o leitor com um turbilhão de revelações que só termina com a última frase.
Em Suicidas a trama é bem desenvolvida e não nos permite antever as situações (as que de fato aconteceram, somente ele nos leva para onde ele quer, como já disse). A narrativa não expõe nenhuma novidade estilística ou literária, mas tem aquele objetivo secreto de nos surpreender e não fazer com que caiamos no cansaço ou enfado do livro. Serve bem a todo público e, assim como tantos outros do gênero, deve (ou deveria) ficar longe (ainda) de mãos infantis. Fora isso, totalmente recomendado!
Enfim, segundo o Chicago Tribune: “Raphael Montes é um autor tão ousado quanto Stephen King, Chuck Palahniuk, Agatha Christie e Patrícia Highsmith”.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
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