LI E GOSTEI: APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO

SEMPRE VIVI NUM CAMPO DE CENTEIO

Em tempos de quarentena e de pandemia, resolvi reler O Apanhador no Campo de Centeio, do escritor americano J.D. Salinger, lançado em 1951: quando eu tinha dois anos de idade.
O Apanhador narra um fim-de-semana na vida de Holden Caulfield, jovem de 17 anos vindo de uma família abastada de Nova York. Holden, estudante de um pomposo internato para rapazes, volta para casa mais cedo no inverno depois de ter levado bomba coletiva em quase todas as matérias. Na volta para casa, ao se preparar para enfrentar o inevitável esporro da família, Holden vai refletindo sobre tudo o que (pouco) viveu, repassa sua peculiar visão de mundo e tenta enxergar alguma diretriz para seu futuro. Antes de se defrontar com os pais, procura algumas pessoas importantes para si (um professor, uma antiga namorada, sua irmãzinha) e tenta lhes explicar a confusão que passa por sua cabeça.
“Se alguém encontra alguém que vem pelo campo de centeio!” , diz um verso do poema de Robert Burns, poema que deu origem ao título da obra, e é letra de uma música que encanta Holden desde criança.
O personagem principal do livro, Holden Caulfield, diz: “…eu fico imaginando um monte de criancinhas brincando de alguma coisa um campo imenso de centeio e tal. Milhares de criancinhas, e ninguém está por ali — ninguém adulto, assim — fora eu. E eu estou parado na borda de um penhasco maluco. O que eu tenho que fazer é que eu tenho que pegar todo mundo se eles forem cair do penhasco — quer dizer, se eles estiverem correndo e não olharem para onde vão, eu tenho que aparecer de algum lugar e apanhar eles. Era a única coisa que eu ia fazer o dia todo. Eu ia ser apanhador no campo de centeio e tal. Eu sei que é doido, mas a única coisa que eu queria ser de verdade. Eu sei que é doido”.
Eu também sei que é doido, mas eu — Professor há mais de quarenta anos —, nos colégios em que trabalhei, sempre me senti num campo de centeio, à beira de um penhasco, sempre pronto a ajudar crianças e jovens que, em geral, nem imaginam haver abismos no caminho de suas vidas: sinto que nasci educador, nasci para servir, nasci para ser um apanhador no campo de centeio.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
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