COMENTÁRIO DO CRÍTICO LITERÁRIO E ESCRITOR, WALDOMIRO PEIXOTO – PRESIDENTE DA ARL, SOBRE A DECLAMAÇÃO:
Acabei de ouvir o seu pungente e doloroso O Cantar do Galo. Uma via sacra em 3 atos com as vísceras espalhadas sobre o piso irregular do leito pleno de pedras pontiagudas. Um dos mais belos poemas seus, enriquecido por um sentimento que só o próprio autor poderia dar. Talvez até tivesse ocorrido o encontro de duas artes, uma delas é a declamação perfeita. Muito bom mesmo.
O CANTAR DO GALO
Do livro “Ecos” , de Antonio Carlos Tórtoro
Ouço o cantar do galo.
Resvalo nos lençóis da cama
E na lama das falsas relações.
Pedra Bruta que sou
Vou sob ações e reações,
De acordo com as canções dançando,
E lapidando aresta por aresta
Do que me resta de imperfeições.
Ouço o cantar do galo
E no intervalo quem sucede à vigília
Penso na ilha de esperança que sou,
E vou rodeado de decepções e dores
Procurando flores e luzes,
Ou de um arco-íris as cores,
Que aos meus amores possam servir de ponte
Para que a fonte de meus anseios
Encontre meios de chegar ao Continente.
Ouço o terceiro cantar do galo.
Calo-me e aguardo julgamento.
É o momento de sentir o açoite.
Da noite sorvo a escuridão.
Meu coração procura o Sagrado.
Amargurado peço perdão pela discórdia
Que minha imperfeição gerou.
Meia-noite passou, com ela e os anjos,
Vem a misericórdia !
Sou Pedro , sou pedra polida.
Minha vida enfim, terminou.
Dobrou o sino , atordoante.
Sob flamejante espada
Deixo de ser nada.
Que seja assim.
E alma mergulhada em Deus,
Reencontro entes queridos meus,
No eterno Jardim.