LI E GOSTEI: CARTAS A VICTOR HUGO

“ Até breve, pois se eu não vos escrevesse não poderia suportar a vida “

Louise Michel

Vai longe o tempo em que trocávamos cartas.
Agora trocamos e-mails e mensagens pelos celulares.
Nossos jovens já não sabem mais o que são cartas ( conhecem as de baralho) e selos.  ( apesar de saberem bem o que são os selinhos).
Marcelo Panguana (Escritor moçambicano, jornalista, cronista,poeta,  autor de contos reconhecido internacionalmente) recorda : “Sei de cartas que ficaram conhecidas na história da cultura universal, desde os tempos do antanho até aos nossos dias. De correspondência entre filósofos, escritores, cientistas e outros que tais. Essa correspondência permitiu não apenas a discussão dos problemas do seu tempo, como também permitiu a possibilidade de os intervientes ensaiarem a sua capacidade especulativa, a sua imaginação, nessa tentativa de estender o seu pensamento até às proximidades da sabedoria. Recordo-me, por exemplo, das maravilhosas cartas que o “mestre” David Mestre escreveu para o escritor baiano Jorge Amado, enaltecendo a sua arte, a beleza da sua escrita, falando sobretudo do mundo dos afetos e desafetos em que os dois viviam. Da correspondência entre Goethe e Schiller, cada um atuando para o outro como um tipo de interlocutor, aprumando assim a sua imaginação e a sua escrita. Entre Castilho e Camilo. Ou entre Tchékov e Górki. Todos eles escreventes de cartas que resistem ao tempo e que correm o risco de se tornarem legados eternos da nossa civilização”.
Assim são as cartas com mais de cento e sessenta anos que ainda nos encantam e enriquecem em Cartas a Victor Hugo — Coleção Mulheres e Letras  da editora Horizonte .
Xavière Gauthier, durante dez anos pesquisou pacientemente todas as cartas que Louise Michel  —  apelidada de a virgem vermelha, a devota da Revolução, a santa leiga, a loba ávida de sangue — escreveu ou recebeu, e descobriu 1290 delas, em onze centros de arquivos na França e na Nova Caledônia, bem como em Moscou, em Amsterdã, no Japão e em posse de colecionadores particulares: e essas cartas que, em 94 páginas, revelam outra Louise Michel  — a passionaria da Comuna de Paris de 1871 — às vezes injusta, contraditória ou mesquinha. Mas as cartas revelam-nos ao mesmo tempo uma mulher mais próxima, mais humana, mais comovente.
Enfim, são cartas apaixonadas e longas, repletas de confidência e admiração. São cartas da maturidade, a busca pela sobrevivência e a realização encontrada no professorado e no engajamento político. São cartas das prisões de Versailhes, Auberive e Nova Caledônia, que em seu exílio ainda produzia versos.
É muito triste constatarmos que os e-mails de hoje não durarão cento e sessenta anos, não serão arquivados, não contarão histórias: seus conteúdos se perderão no cipoal de enilhões de informações náufragas nas ondas do mar digital da  Internet.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO70_11974-1

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