LI E GOSTEI: CINQUENTA TONS DE CINZA

CINQUENTA MANEIRAS (OU MAIS) DE LER E. L. JAMES

Acabo de ler o primeiro volume da trilogia  da escritora Erika Leonard  James, Cinqüenta Tons de Cinza, publicado em 2011: mas sei que não conseguirei ler nem o segundo e nem o terceiro.
Explicarei o motivo ao final desse texto.
Gosto de ler, conhecer, refletir sobre,   e poder discutir  tudo que qualquer  livro  puder me transmitir.
Por esse motivo  busquei conhecer esse livro com mais de 40 milhões de cópias vendidas em 37 países.
E gostei: posso garantir que, eroticamente falando,  é melhor e mais excitante do que ler o texto integral do Kama Sutra.
Mas em termos de relação entre casais, a existente entre Grey (Christian Grey, atraente, brilhante e profundamente dominador) e  Ana (Anastácia Steele, estudante de literatura, ingênua e inocente) me fez lembrar um pouco minha esposa Lu,  no princípio de nosso namoro: eu, um experiente universitário, beirando os 22 anos,  e ela uma adolescente sem completar os 15.
Só mantivemos relações sexuais depois de casados, talvez porque eu não tenha tido oportunidade de ser um magnata: dava aulas manhã, tarde e noite, andava a pé ( helicóptero Charlie Tango nem pensar) . Presentes caríssimos e Quarto Vermelho da Dor…ou do Prazer,  então…
Mas posso garantir que a duração de nosso namoro ,mais de quarenta anos,  tem a ver como a maneira como encaramos o sexo: não existem tabus, vale tudo entre quatro paredes desde que haja consenso: essa é a palavra, esse é o sucesso de qualquer contrato, mesmo que não o seja por escrito — como o exigido por Grey.
Quem lê “Fifty Shades of Grey”  às vezes não percebe que também está lendo “Fifty Shades of Ana” : na verdade a dominadora ( de forma muito inteligente) é ela, Anastácia, a mulher, porque ela descobre mais sobre seus próprios desejos e, eu diria, sobre sua capacidade de estabelecer os rumos da relação.
Penso que a colaboração importante que o chamado “ pornô das mamães” dá, para melhorar as relações sexuais, é que as mulheres precisam saber que , para muitos homens, é um alívio ter uma mulher ao seu lado que seja honesta no que realmente quer, que se interesse em investir em sua sexualidade assim como em desenvolver seu cérebro, aliviando a existente cultura machista e permitindo relações onde os papéis são mais flexíveis e saudáveis.
Cito  a psicóloga Marília Santos, que mora em Londres, e que fala de mulher e sexualidade:
“Para criarmos mudanças positivas, com direitos comuns, e para que a sexualidade feminina seja mais bem compreendida, temos que ter menos medo de debater sobre temas como a indústria erótica e pornô, onde ainda estamos jogando como reservas e não como titulares. Se levarmos isso a sério, estaremos fazendo um bem enorme às mulheres de hoje e às futuras gerações de meninas. Espero que, ao ler Cinqüenta Tons de Cinza, esses milhões de mulheres descubram cinqüenta (ou mais) tons de mulheres dentro de si. Se um dia Freud perguntou o que as mulheres querem, acho que agora podemos responder: não sabemos tudo o que queremos, mas estamos em processo de criação daquilo que já sabemos que queremos”.
Em tempo: não lerei os volumes dois e três porque nas relações BDSM pouco pode ser criado que seja novidade.

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ANTONIO CARLOS TÓRTORO

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