ARTIGO: RESSURREIÇÃO E O BBB 21

 

Resolvi reler Machado de Assis: e comecei pelo começo: “Ressurreição” é o primeiro romance de Machado de Assis, publicado em 1872.

Embora considerada uma obra da primeira fase, romântica, do autor, seu romantismo é contido, moderado, sem os excessos sentimentais, reviravoltas na trama e final feliz do folhetim tipicamente romântico. Trata-se mais de um romance psicológico, “o que, se não é inédito, é raro em romances românticos”, onde, mais importante que a intriga é “estudar o caráter e o comportamento” dos personagens. O próprio Machado, na “Advertência da Primeira Edição”, deixa claro: “Não quis fazer romance de costumes; tentei o esboço de uma situação e o contraste de dois caracteres; com esses simples elementos busquei o interesse do livro.” Sua ideia foi pôr em ação o pensamento de Shakespeare: “Our doubts are traitors, / And make us lose the good we oft might win, / By fearing to attempt” (Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que frequentemente poderíamos ganhar, ao termos medo de tentar.)

A trama ocorre no Rio de Janeiro do século XIX, onde o  Doutor Félix troca de amantes a cada seis meses (“os meus amores são todos semestrais; duram mais que as rosas, duram duas estações”) e rompe com a última delas, Cecília. Viana, seu amigo, apresenta-lhe a irmã Lívia, uma bela mulher, viúva há dois anos, mãe de um menino de cinco anos. Começam a se relacionar como amigos, mas ao fim de alguns encontros e de algumas valsas os dois se apaixonam. De início vivem um amor discreto, oculto da sociedade. Porém, vários conflitos passam a ocorrer devido ao ciúme e desconfiança do protagonista. Depois de muitas idas e vindas, Felix acaba pedindo a viúva em casamento, mas volta atrás na véspera do matrimônio por causa de uma carta anônima com acusações falsas contra Lívia. Graças à intervenção do amigo Meneses, Félix se arrepende de seu gesto impensado e tenta se reconciliar, mas agora é Lívia quem não quer mais se casar com o médico desconfiado e instável. “As dúvidas o acompanharão onde quer que nos achemos, porque elas moram eternamente no seu coração”, diagnostica Lívia.

Além do casal de protagonistas o autor faz desfilar uma galeria de personagens secundários, cujas personalidades e características físicas esmiúça, como costuma fazer em suas obras.

Então, fiquei imaginando como Machado de Assis, em pleno século XXI,   estudaria  o caráter e o comportamento” dos brothers, de que forma ele esmiuçaria personalidades e características físicas de cada um dos 20 participantes do reality show, e como analisaria as relações decorrentes do confinamento por 100 dias.

Como seria ouvir da boca de Tiago Leifert, palavras do “Bruxo do Cosme Velho”  comentando sobre as atividades dos grupos Pipoca e Camarote durante a provas do líder, do anjo e castigos do monstro, bate-voltas e contragolpes, ou sobre as reações dos indicados aos temidos paredões?

Ao ler Ressurreição, pela quantidade e qualidade  de informações sobre seus personagens,  pareceu-me que Machado está assistindo a um BBB,  com confinados num casarão nas Laranjeiras ou Tijuca: Dr Félix, Sr. Viana, Coronel Morais e Dona Matilde, Lívia, Cecília, Dr. Menezes, Raquel, Dr. Batista, Moreirinha…que em 2021, em época de pandemia do Covid 19, ninguém desejaria  perder o bem (um milhão e meio de reais) e nem teria o receio de buscá-los.

Advertência: enfim, não sei o que devam pensar deste texto; ignoro sobretudo o que pensará dele o leitor.

 

 

 

 

 

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