LI E GOSTEI: BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA

EINSTEIN, BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA

“ Poético     e   tocante (…)   as descrições da vida em meio a esses tempos e lugares   insólitos  são tão envolventes que o  leitor termina querendo mais “

The New York Times Book Review – sobre o livro de Dai Sijie

Em 1929, numa entrevista, Albert Einstein comparou o universo a uma biblioteca : Estamos na situação de uma criança pequena que entra numa biblioteca imensa, repleta de livros em diferentes línguas. A criança sabe que alguém escreveu esses livros. Mas não sabe como isso aconteceu. Ela não entende as línguas em que eles foram escritos. A criança supõe uma organização misteriosa na arrumação dos livros, contudo não sabe qual. Acho que é assim que até mesmo o ser humano mais inteligente se sente em relação a Deus. Enxergamos um universo que está montado maravilhosamente e que obedece a determinados limites, mas apenas os inferimos. Nossa compreensão limitada não consegue apreender as forças misteriosas que movimentam a constelação.
Esse universo (biblioteca), no livro Balzac e a Costureirinha chinesa  — baseado nas experiências de Daí Sijie ( nascido na China em 1954, proveniente de uma família de classe média, foi enviado pelo governo maoísta a um campo de reeducação rural, onde viveu entre 1971 e 1974)  no campo de trabalhos forçados — cabe numa valise: “ Aproximamo-nos da valise. Estava amarrada com uma grossa corda de palha, em forma de cruz. Desfizemos os nós e a abrimos silenciosamente. Dentro da valise, pilhas de livros iluminaram-se sob o feixe de luz da lanterna. Grandes escritores ocidentais nos acolheram de braços abertos: à frente, estava nosso velho amigo Balzac, com cinco ou seis romances, seguido de Victor Hugo, Stendhal, Dumas, Flaubert, Baudelaire, Romain Rolland, Rousseau, Tolstoi, Gogol, Dostoievski, além dos ingleses, como Dickens, Kipling, Emily Brontë…”
Nesse livro, com um milhão de exemplares vendidos na França e traduzido para mais de 25 idiomas, conta a história de  Daí e Luo —  dois jovens de classe média, mandados para uma remota cidade no interior do país para serem “reeducados” pelo trabalho braçal no campo — quando, no auge da revolução Cultural chinesa, em 1971, Mao Tse-tung fechava as universidades e perseguia os intelectuais.
Daí e Luo passam a viver num casebre, enfrentam condições precárias na lavoura e em minas de carvão e acreditam ter poucas chances de retornar à cidade natal. Mas dois fatos irão mudar seu destino. Primeiro, conhecem a filha do alfaiate local ( a menina mais bela da região) , por quem se apaixonam. E, em seguida, encontram uma velha mala de couro repleta de obras de autores proibidos pelo regime.
Romance de fundo autobiográfico, adaptado para o cinema pelo próprio autor, em 2022, Balzac e a Costureirinha chinesa não é só uma história de amor entre três jovens no interior da China (uma aldeia na Província de Sichuan) . É, também, uma comovente narrativa sobre a sede insaciável pela literatura e sua força transformadora: “ ao  término da leitura ( diz Luo, ao fim da leitura do primeiro volume de Jean-Christophe, romance do francês Romain Rollan) , nem a maldita vida nem o maldito mundo poderiam ser como antes”.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO70_11698-1

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