UM ANJO NO MURO – HOMENAGEM PÓSTUMA AO AMIGO BENÊ PANIZZA

UM ANJO NO MURO

Amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração

Canção da América 

Arcanjo Uriel :chama de Deus.

Sua principal missão é estabelecer a paz no coração dos homens.

Uriel fortalece os injustiçados, levando-os de volta ao caminho da confiança e do amor.

E Uriel apareceu-me, há trinta anos atrás, em forma de um vizinho que havia se mudado recentemente para uma casa ao lado da minha — início de 1995.

Eu havia perdido um emprego, no dia 20 de dezembro de 1994, após trabalhar por muitos anos no Colégio Santa Úrsula como Coordenador Pedagógico e responsável pela disciplina dos alunos, despedido por um simples motivo: souberam que eu havia me iniciado na Maçonaria.

Com dois filhos menores, momentaneamente sem escola para o ano letivo de 1995, e sem expectativas claras de um novo emprego, bateu o desespero e a insegurança, mesmo eu havendo recebido um valor considerável pela rescisão do meu contrato: momentaneamente, dinheiro não era problema.

Até antes de minha demissão, dezenas de “amigos”  me enviavam mensagens lindas de Natal ao final de cada ano. Mas no Natal de 1994 desapareceram todos: nenhuma mensagem , nenhum telefonema. Só então percebi que não tinha amigos: eu tinha dezenas de conhecidos que só se interessavem pelo meu cargo de destaque num colégio tradicional de Ribeirão Preto.

Foi nesse clima de tensão que, num dos dias iniciais de janeiro de 1995, meu recente vizinho, Benedito Panizza,  vendo-me andar pensativamente, na área da garagem de meu Escort,  colocou a cabeça sobre o muro divisor de nossas residencias e me ofereceu um emprego.

Não era um emprego em algum colégio, dentro de minha área de conhecimento: era um emprego de vendedor em sua pequena empresa que vendia filtros de água. Na oprtunidade ele me disse: “Boa tarde professsor, sua esposa disse à minha esposa Luciana,  que você está muito preocupado por haver perdido seu emprego no colégio. Tenho certeza de que, com sua competência, você conseguirá voltar a trabalhar em uma escola. Penso que, se você souber que seus rendimentos estarão garantidos em 1995, trabalhando como meu vendedor, seus dias que restam de férias poderão ser um pouco mais tranquilos”.

Esse instante marcou minha vida para sempre: nenhum dinheiro poderá pagar a o valor daquele momento divino.

No final do mês de janeiro de 1995, comecei trabalhar no Colégio Anchieta, cujo mantenedor é meu amigo de infância no primário do Guimarães Jr,  João Alberto de Andrade Velloso, onde estou até hoje: há quase 30 anos.

Benê e sua família, passaram a fazer parte da minha família.

Foram muitas viagens de férias para o litoral paulista, muitas lembranças agradáveis, muitos momentos de alegria e fraternidade:Benê era excelente cozinheiro, e seu pernil assado era esperado para ser saboreado a cada final de ano que nossas femílias viajavam juntas.

Vi casarem seus filhos, e ele os meus, vi seus netos nascerem, festejamos juntos algumas festas de aniversário.

Até que nos últimos dez anos, a vida nos separou fisicamente: ele se mudou para um bairro distante do meu.

E agora, foi com terrível pesar que eu vim a saber — no dia 22 de maio de 2024, por meio de sua esposa Luciana e a filha Jéssica, via Messenger —,  de sua morte prematura — vítima de uma complicação de enfizema pulmonar .

E como as pessoas boas iguais ao Benê, não morrem, viram estrelas, despedi-me dele com uma oração, ao lado do muro em que nos falamos pela primeira vez, olhando para as estrelas, no céu do dia 22 de maio de 2024, onde uma das estrelas, ao lado da dele, é meu filho Rodrigo, que ele amava tanto, e que também o amava desde pequenininho.

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