ARTIGO: MINHA PRIMEIRA PROFESSORA – INESQUECÍVEL…. HOMENAGEM À DONA CACILDA MACHADO DE MELO

 

MINHA PRIMEIRA PROFESSORA: INESQUECÍVEL

 

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”

 

                                                            Cora Coralina

 

Eu saía de casa bem cedinho, logo após tomar meu café da manhã.

Minha mãe me levou somente uma vez até o imponente prédio da E.E. Dr.  Guimarães Júnior.

Eu havia completado sete anos, início do ano de 1957: a cadelinha Laika entrava em órbita dentro do Sputnik I.

A partir do dia seguinte minha mãe e eu subimos pela rua Olavo Bilac, a partir do número 342, até chegarmos à esquina com a rua Lafaiete.

Eu levava comigo, a tiracolo, uma lancheira e uma pasta com o mínimo de material escolar.

Ela então apontou a direção que, a partir dali, eu deveria seguir, em linha reta, sozinho, e me disse: Vai andando, cuidado para atravessar a avenida Independência e as outras ruas, e entre na escola que você conheceu ontem.

Andei por aproximadamente nove quarteirões. Lembro-me de que passei pela Praça 7 de Setembro: linda, arborizada e com um coreto central.

A Professora que já me conhecia, recebeu-me com carinho e atenção, e percebeu que os cordões dos meus sapatos estavam sem o devido laço.

Aquela mulher enorme, linda, agachou-se diante de mim, e passou a dar um laço no cadarço, explicando-me como deveria ser feito por mim, da próxima vez que desamarrasse.

Hoje, a imagem que me vem à cabeça, é de uma Rainha, que, de joelhos, prestava um serviço ao seu Pequeno Príncipe: foi inesquecível.

Logo começamos a desvendar o incrível e mágico mundo das letras, palavras, frases, parágrafos, páginas, livros, bibliotecas, desfolhando a sagrada cartilha Caminho Suave, que alfabetizou milhões de crianças desde a década de 50.

Primeiro o “a” de abelha, depois o “b” de barriga, “c” de cachorro, “b” e “a”, ba, baba, bebe, bobo.

Até chegarmos ao momento surreal: aprendemos a grifar nosso nome.

E o mundo se abriu para mim: eu lia outdoors, placas de rua, letreiros dos ônibus. Nada escapava aos meus olhos ávidos de leitura. Viver não era mais enfadonho, complicado. Eu agora brincava com os símbolos, com as diversas formas de grafia.

Todo o processo foi acompanhado pelas mãos macias e delicadas da primeira professora, que tomava minha pequena mão na dela, e ambas envolviam o lápis, e começavam uma dança, ritual de curvas, idas e voltas, dentro das linhas do caderno de caligrafia.

A primeira professora exerce um papel fundamental na vida de qualquer pessoa. Ela é a responsável por introduzir o mundo das letras, números e conhecimentos básicos, mas, além disso, é a figura que proporciona as primeiras experiências de aprendizado fora do ambiente familiar. O processo de alfabetização, conduzido por uma educadora dedicada, é um marco que abre para nós as portas para o conhecimento e a formação contínua ao longo da vida.

 

Durante o processo de alfabetização, a primeira professora ajuda a desenvolver habilidades essenciais, como a leitura e a escrita. Esse processo não se limita a ensinar a decodificação de palavras, mas também a instigar a curiosidade, promover a compreensão crítica do mundo e incentivar a expressão de pensamentos e emoções. A primeira professora é muitas vezes lembrada pela paciência, carinho e dedicação, características que facilitam a construção de um ambiente de aprendizado seguro e acolhedor.

 

Além de transmitir conhecimento, a primeira professora desempenha um papel vital na formação do caráter e na socialização dos alunos. Ela ensina valores, como o respeito ao próximo, a importância do trabalho em equipe e a empatia. Essas lições são levadas para a vida toda, moldando o comportamento e as atitudes dos alunos em diferentes situações.

 

O impacto da primeira professora e do processo de alfabetização é duradouro. Eu ainda hoje, nos meus 75 anos,  me recordo com carinho e gratidão essa figura que marcou o início de minha jornada educacional. O aprendizado inicial não só me proporcionou as ferramentas necessárias para o meu desenvolvimento acadêmico e profissional, mas também construiu a base para o pensamento crítico e o amor pelo aprendizado, que me acompanharam o por toda a vida: hoje sou um professor e escritor.

 

Muitos indivíduos notáveis na história universal tiveram professores que desempenharam papéis significativos em suas vidas. Aqui estão alguns exemplos de primeiras professoras que influenciaram pessoas importantes:

 

Aristóteles: Seu primeiro professor foi Platão, mas antes disso, ele provavelmente recebeu instrução de seu pai, Nicômaco, e de outros mestres. No entanto, a professora que teve um papel importante em sua formação inicial, provavelmente, foi sua mãe, Festis, ou alguma tutora da família.

 

Leonardo da Vinci: Embora ele tenha se destacado principalmente como autodidata, a primeira influência educativa de Leonardo provavelmente veio de sua madrasta, Albiera di Giovanni Amadori, que cuidou dele durante sua infância.

 

Albert Einstein: A mãe de Einstein, Pauline Koch, foi sua primeira educadora. Ela incentivou seu interesse pela música e pela leitura desde cedo, proporcionando um ambiente culturalmente rico.

 

Isaac Newton: Newton teve a influência de sua mãe, Hannah Ayscough, em seus primeiros anos, mas depois, quando foi para a escola em Grantham, ele estudou com um mestre chamado Henry Stokes, que provavelmente foi um de seus primeiros professores formais.

 

Mahatma Gandhi: Sua primeira professora foi sua mãe, Putlibai, que lhe ensinou os valores de honestidade, compaixão e disciplina, os quais influenciaram sua filosofia de vida e liderança.

 

Marie Curie: Recebeu suas primeiras lições de sua mãe, Bronisława Skłodowska, que era professora e diretora de uma escola de meninas em Varsóvia.

 

Enfim, esses exemplos mostram como a educação inicial, muitas vezes proporcionada pelas mães ou professoras particulares, desempenhou um papel vital no desenvolvimento de indivíduos que mais tarde se tornariam figuras históricas de grande importância.

 

Hoje, eu gostaria de reencontrar minha primeira professora, para, de joelhos, agradecer por todo o carinho com que me ensinou a ler e a escrever, e poder dizer:

Muito obrigado DONA CACILDA MACHADO DE MELO.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
Ex-presidente da ARL – Academia Ribeirãopretana de Letras
www.tortoro.com.br
ancartor@yahoo.com

OBSERVAÇÃO: NESTE POST ESTÃO ANEXADAS CINCO PÁGINAS DO MEU PRIMEIRO CADERNO ESCOLAR.

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