SAIO DO COLÉGIO, MAS O COLÉGIO NÃO SAI DE MIM.
“Hospes comesque corporis”
Memórias de Adriano – Margherite Yourcenar.
Minha sala de Orientador Educacional é um palco onde diariamente vivo meu papel de educador, educador no sentido mais amplo da palavra que significa o meio em que os hábitos, costumes e valores de uma comunidade são transferidos de uma geração para a geração seguinte.
Minha sala propicia um encontro de gerações: crianças de dez a dezessete anos, pais e mães em idade madura, e avós já acima dos sessenta. É uma troca de experiências de vida, que enriquece a todos, — que se propõem a um diálogo aberto e sem preconceitos — onde ensinamos e aprendemos com o próximo. Eu poderia dizer que é um espaço de evangelização, em que podemos conhecer o ser humano de forma complexa, considerando o seu presente e passado, e não apenas como uma unidade homogênea.
Um pouco dessa experiência constam do meu livro Repercutindo Educação, um compilamento de artigos que publiquei em jornais e revistas.
Nas paredes, estão expostas algumas pinturas de minha autoria: gosto de desenhar e pintar.
Sob o vidro que cobre minha escrivaninha de trabalho, algumas ilustrações que contam um pouco dos meus pensamentos e valores.
Sobre a mesinha, ao lado da escrivaninha, um vasinho de flores artificiais e um exemplar da Bíblia, aberto em um dos meus Salmos preferidos, que mudo de vez em quando.
Na minha frente, sempre está presente uma poltrona e mais três cadeiras, diariamente ocupadas por pais, alunos e professores que me procuram para algum tipo de conversa, troca de ideias, sobre Educação. ´
Atrás de mim existem seis arquivos de aço, constantemente consultados: fichas individuais de alunos, avaliações aplicadas pelos professores, e materiais de uso diário.
Sou alguém para quem a educação não é apenas uma profissão, mas um modo de vida. Todos os dias, penso em como transformar o ambiente escolar, em como os pais podem se sentir mais presentes na formação de seus filhos, e em como os alunos podem descobrir suas potências e superar suas dificuldades.
Sonho com maneiras de apoiar os professores, ajudando-os a aprimorar suas práticas, e busco incansavelmente soluções para tornar a escola um espaço mais acolhedor e transformador.
Mesmo fora dos muros do colégio, na maior parte do meu tempo, continuo imerso nesse mundo. Cada conversa que tenho, cada notícia que leio, me faz pensar em como aquela informação poderia ser adaptada para enriquecer o ensino, para impactar positivamente a comunidade escolar.
Vivo e respiro educação. O colégio onde trabalho é onde quero acreditar que posso realmente fazer a diferença.
E assim, meu olhar atento, e com experiência de mais de cinquenta anos dedicados à Educação, observo tudo: as mudanças no comportamento dos jovens, os desafios da sociedade, as angústias dos pais.
Às vezes gostaria de ser um Dumbledore — personagem de Herry Potter — que morrerá sempre trabalhando para o bem maior e, até a sua hora final, disposto a estender a mão a quem o procurar.
E, a partir desse olhar, busco formas de tornar o ambiente educacional mais humano, mais sensível às necessidades de todos — sem deixar de ser rigoroso e exigente quando os momentos exigem, e que nem sempre são bem compreendidos — porque para mim, educar vai muito além de ensinar conteúdos; é cuidar, acolher, disciplinar e formar seres humanos adaptados às exigências do mundo atual: um mundo esquisito, com vidas muito esquisitas, segundo o escritor Nassim Taleb, em seu livro A Lógica dos Cisnes Negros.
Essa dedicação faz com que a educação esteja sempre presente em meus pensamentos e em minha vida, como uma missão que abraço de corpo e alma.
O Colégio é, para mim, hóspede e companheiro do meu corpo.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
Ex-presidente da ARL – Academia Ribeirãopretana de Letras.
ancartor@yahoo.com