MENSAGEM PRÉ-NATAL
Volta teu rosto sempre na direção do sol, e então, as sombras ficarão para trás”
Sabedoria oriental
Era um dia em que eu me sentia como quem partiu ou morreu, sentia que estanquei de repente.
Sentia-me como o Imperador Adriano no livro de Marguerite Yourcenar: ocorria-me “a idéia de que meu corpo, este fiel companheiro, este amigo mais seguro e mais meu conhecido do que minha própria alma, não é senão um monstro sorrateiro que acabará por devorar seu próprio dono”.
Dirigindo meu Cronos rumo ao trabalho, vi, ao som de Cavalgada das Valquírias, e sob um céu azul de manhã de primavera, uma garça branca cortar o ar com asas que pareciam tocar o infinito.
Seu voo era suave, quase etéreo, como uma mensagem sussurrada por uma pequena alma terna, flutuando entre a brisa leve e os raios de um sol que despertava o espírito para o mundo real.
No alto, pouco acima do horizonte, uma lua crescente, pálida e serena, já de saída, observava em silêncio, guardiã de sonhos e pesadelos que não se perderam na madrugada.
A garça seguiu, traçando sua jornada como se carregasse um segredo antigo, uma promessa de luz e paz, que só os olhos atentos do coração angustiado poderiam compreender.
Em poucos minutos cheguei ao estacionamento do Colégio.
Uma árvore de Natal, devidamente ornamentada, esperava por mim logo na entrada, fazendo-me lembrar que faltava um mês para o final de mais um ano.
Natal, tu vens, tu vens, eu já escuto teus sinais que me fazem lembrar bons momentos inesquecíveis.
E, então, desisti da idéia de me jogar sobre a tela da raquete elétrica.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
Ex-presidente da ARL – Academia Ribeirãopretana de Letras
www.tortoro.com.br
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