“Estamos em toda a parte, exceto onde estamos fisicamente”.
Thomas L. Friedman
“Gilberto, nosso guia peruano na floresta, não carregava aparelhos portáteis e não sofria de atenção parcial contínua. Pelo contrário. Ele ouvia cada gorjeio, assovio, uivo e pegada na floresta, e nos detinha pelo caminho para imediatamente identificar o pássaro, inseto ou animal que havíamos escutado. Ele tinha uma visão incrível e nunca perdia uma teia de aranha, uma borboleta, um tucano ou uma fila de cupins. Ele estava totalmente desconectado da web, mas totalmente em contato com a incrível rede de vida à sua volta”.
O texto acima é uma ilha de poesia perdida em O mundo é plano, de Thomas L. Friedman, que relata as grandes mudanças que estão acontecendo no mundo contemporâneo onde os avanços das tecnologias e da comunicação conectam as pessoas como nunca antes — criando uma explosão de riqueza na Índia e na China e desafiando o resto do mundo a correr para não perder terreno.
Friedman nos mostra — nesse livro que deveria ser lido por todos os empresários e educadores que sabem o valor de se verem as coisas de uma nova maneira em um mundo em constante modificação — como e por que a globalização tem acelerado as nossas vidas e desmistificado com maestria o novo mundo plano. Com sua inigualável habilidade para traduzir complexos problemas de economia e política externa, o autor explica como se deu o achatamento do mundo no início do século XXI; seu significado para países, empresas, comunidades e indivíduos; e como governos e sociedades podem e devem se adaptar. O mundo é plano é uma análise oportuna e imprescindível da globalização, de seus êxitos e contratempos, realizada com rigor e clareza por um dos mais respeitados jornalistas norte-americanos da atualidade.
Dentre as 634 páginas, e catorze capítulos, destaco algumas ideias encontradas no capítulo 9 : A globalização do local – A revolução cultural está prestes a começar, até porque não sou um homem de negócios, mas um professor, que por força da profissão, se preocupa prioritariamente com pessoas, educação e cultura.
Exemplo: A globalização não vai significar mais americanização, e sim mais globalização de culturas, formas de arte, estilos, receitas, literatura, vídeos e opiniões locais — mais e mais conteúdos locais que se tornam globais porque a plataforma do mundo plano permite que qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, pegue sua própria cultura para fazer o upload dela ao mundo. Assim como a pizza sobre a qual cada cultura põe sua própria comida e seu sabor ( o Japão tem pizza de sushi, Bangcoc tem pizza thai e o Líbano tem pizza mezze) , a plataforma mundo plano é como a massa da pizza. Permite que culturas diferentes temperem como quiserem e ponham o gosto que quiserem. É a chamada globalização local, a globalização invertida. Em vez de a mídia global estar envolvendo uma determinada região, é a mídia local da região que está se tornando global via internet.
No capítulo 11, encontrei afirmações que incomodam, com relação ao uso atual da tecnologia: “A tecnologia pode fazer o que está longe parecer muito perto. Mas também pode fazer o que está perto parecer longínquo”, ou “ Somos tão acessíveis que estamos inacessíveis”, ou “Estamos em toda parte, exceto onde estamos fisicamente” , uma reflexão que se fez presente depois do autor ter tomado um táxi e, ao chegar ao hotel ter constatado que “ Ele ( o taxista) dirigiu, falou ao telefone e assistiu a um filme. Eu (o autor) fui conduzido, trabalhei no laptop e ouvi o iPod. Só uma coisa nunca fizemos (durante o trajeto) : falar um com o outro”.
Enfim , lendo O mundo é plano fica fácil constatarmos que vivemos a “Era da Interrupção” porque é uma época de interrupções constantes — a menos que você desligue tudo. Saímos da Era do Bronze para a Era Industrial, daí para a Era da Informação e entramos na Era da Interrupção. Tudo o que fazemos agora é interromper uns aos outros (e a nós mesmos) com essas mensagens instantâneas, esses e-mails ou ligações de celular.
Mas ainda há esperança: existem alguns lugares no mundo não plano onde é possível ser um Gilberto.