PREFÁCIO DE ELY VIEITEZ LISBOA PARA “REPERCUTINDO EDUCAÇÃO”

Sobre a obra, seguem trechos do prólogo de Ely Vieitez Lisboa, escritora, com treze livros publicados, de poemas, contos, ensaios. Autora de Minhas Estórias, gênero infanto-juvenil e do romance epistolar Cartas a Cassandra (2003).  Seus livros mais recentes são: Replantio de Outono, poemas (2008). Organizou a Antologia Ave, Palavra!, com 38 poetas de Ribeirão Preto, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro (2009). Tempo de Colher (2010), de artigos jornalísticos publicados no jornal A Cidade, de Ribeirão Preto.

Quando Antônio Carlos Tórtoro convidou-me para prefaciar seu livro Repercutindo Educação e sinestesia decorrente de suas relações, senti-me honrada, mas cheia de preocupação. Artigos sobre Educação, Escola e relações familiares, em geral são teóricos e tediosos. Mesmo assim, conhecendo o amigo íntegro, de personalidade forte, e o intelectual dinâmico, hoje um leitor ávido de grandes autores, aceitei. Surpresa, até meio fascinada, comecei a leitura dos oitenta artigos publicados em jornais ou veiculados na Internet. Alguns eu já conhecia. E foram estes, principalmente, que me deram a certeza de que a tarefa seria puro deleite. E foi.
Iniciando o livro, descobre-se logo a razão da leitura agradável, apesar dos temas aparentemente comuns e já muito explorados. Os argumentos, as análises, os posicionamentos do Tórtoro Professor, Coordenador Pedagógico e Orientador Educacional são sempre frutos do vivido, do vivenciado dia a dia, e não de meras teorias. É isso que dá força aos textos, com títulos, argumentações e abordagens diferentes. Assim, ele se alicerça em autores inteligentes, como Augusto Cury, psiquiatra e cientista. Analisa o fenômeno da SPA (Síndrome do Pensamento Acelerado), gerada por excessos de estímulos da TV.
Na sociedade moderna, a influência e o uso da Internet são, globalizadamente, uma realidade da qual não se pode fugir. Há incautos com uma visão vesga, que chegam a preconizar o desaparecimento da necessidade de professores, que serão substituídos pelas máquinas. Contra isso, Cury alerta, sabiamente: “…os computadores não conseguem ensinar sabedoria, solidariedade e amor pela vida. Os professores são os alicerces das profissões e o sustentáculo do que é mais lúcido e inteligente entre nós. O pouco de luz que entra na sociedade vem do coração dos professores e dos pais que arduamente educam seus filhos”.
Em vários artigos, Tórtoro analisa a exagerada e perniciosa proteção dos “hiperpais”, com consequências desastrosas, como denuncia a pediatra americana Marily Heins. Outros grandes autores, como Artur da     Távola, alertam para esse perigo tão comum, alimentado pela falta de punições e advertências aos pequenos infratores na escola.
Em Dissecação Literária, ACT transcreve uma Carta Aberta que lhe escrevi, no Jornal Metrópolis, em 2002. Hoje, quase dez anos depois, vejo que Tórtoro não mudou. Esse Quixote redivivo continua lutando bravamente contra todos os moinhos de vento que encontra.
No excelente texto “É bárbaro ser pedófilo”, nosso autor questiona a semântica do termo. O mesmo fiz algum tempo depois, mas sabemos os dois que a linguagem é algo vivo e não pode ser cerceada. E para os hediondos crimes chamados de Pedofilia, usa-se erradamente o termo. Mas ele continuará sendo usado, inclusive nos meios de comunicação.  Em A Cidade, de 6/6/2010, eu afirmava: “O erro acabará sendo o correto. Mais uma vez, a linguagem, como elemento vivo, vencerá a Semântica, que se recolherá, humildemente, na cela da Gramática”.
A obra Repercutindo Educação faz a apologia da escola mais séria, com punições dos deslizes de alunos infratores, realçando a importância de torná-los mais responsáveis.  Tórtoro não se dobra diante das modernidades que, na realidade, acabam por alimentar a Era da Permissividade, formando adolescentes e jovens falhos e frouxos. É um posicionamento otimista e meio utópico, mas muito lógico e lúcido.
Meio profético em vários textos, ACT denuncia a situação caótica da sociedade e, dentro dela, o espelho: “Quaisquer palavras ou considerações éticas e morais se perdem no vazio de valores, de respeito humano, na cidadania, na total ausência de empatia e amor entre os seres humanos” (do artigo: Ladrões ocultos).
No texto “Macapagaios”, ele elogia nosso Hino Nacional e explica a gênese do neologismo criado por Aluysio Mendonça Sampaio. Muito ufanista, Tórtoro realça os símbolos brasileiros, a Bandeira e o Hino. Transmite assim uma dose de otimismo, preferindo elogiar o Hino a analisar um problema nosso bem particular: apesar da beleza da melodia de Francisco Manuel da Silva, a letra de Joaquim Osório Duque Estrada é muito arrevesada, com suas inversões do vocabulário erudito. Já se constatou que uma grande porcentagem de quem canta nosso Hino, ou talvez, quase todos os brasileiros só o repetem, sem saber o que o poema diz.
Outro artigo muito bom e profético é o “Magistério: profissão perigo”. Diante da inversão de valores preconizada pela chamada Didática Moderna”, o autor analisa a situação terrível das escolas, onde o aluno tudo pode, e os professores e orientadores são mais vítimas. Ele termina com um trecho cheio de sabedoria. Após traçar um paralelo entre o Oriente e o Ocidente, na Educação, ele clama: “Pobre Ocidente, pobre Brasil, pobres professores, MacGyvers reais, num mundo real em que a educação “avança” baseada em conceitos de especialistas da Educação que transmitem aos alunos e pais a ideia de que o aluno pode tudo, menos cumprir com suas obrigações de estudante, e que só podem, devem ser defendidos, ajudados à moda de Capone”; o gangster acredita na conversa gentil, se estiver armado. Evidentemente,  ACT alude, semanticamente, a outro sentido de “arma”: poder, respeito, aceitação, igualdade de direitos.
Há textos muito fortes, como o “Não deveria: mas que existem, existem”. De uma ironia cáustica, é muito pertinente a alusão de Voltaire, texto em epígrafe: “Para que discutir com os homens que não se rendem às verdades mais evidentes? Não são homens, são pedras”.  Em “O Bullying e o Tatu”, nosso articulista conceitua o fenômeno moderno, constante nas escolas: “Todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder”. O fenômeno, hoje globalizado e comum, continua acirrado, apesar de existir a ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência”.
Artigos profundos realçam grandes autores como Rubem Alves, ou o escritor João Ubaldo Ribeiro. Muitas vezes abordam acontecimentos simples, hábitos populares que surgem e logo desaparecem, como o uso das pulseiras sexuais, aludem a temas sérios como das diferenças sociais, ou o mau vezo dos pais, hoje, de terceirizar a educação para a Escola. Homenageia figuras ilustres, como o faz, postumamente, falando de Rubem Cione, ou discute asserções de figuras de fama universal: Freud e Melanie Klein, discorre sobre o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e  Hiperatividade).
Antônio Carlos Tórtoro, intelectual sério, estudioso, de um dinamismo exacerbado e raro, tornou-se, hoje, mais do que nunca, um leitor voraz de obras famosas, best-sellers nacionais e/ou estrangeiros. O resultado é que seus artigos publicados semanalmente, na Internet, tornaram-se mais eruditos, literários, muito atraentes. É de se esperar o sucesso deste livro. E mais: com certeza, logo teremos uma nova obra de nosso D. Quixote das Letras.

Ely Vieitez Lisboa

 

OUTROS COMENTÁRIOS DE LEITORES, SOBRE O LIVRO :

 

Caro Tórtoro,

Li o seu livro “Repercutindo educação”.
O título nos faz pensar em alguma coisa “chata”, mas me surpreendi com um texto atraente, bem escrito, atual e pertinente.
Vale a pena ler.
Gostei muito. Identifiquei-me sobretudo com a falta de cidadania (ninguém respeita as vagas especiais reservadas nos estacionamentos) e a alienação dos pais com relação à educação dos filhos (acham que é dever das escolas). Eu tive um professor -Vilem Flusser, filósofo- na FAAP -SP, em 1967/70, que dizia que no futuro não haveria o absurdo, não nos espantaríamos com nada. Ele tinha razão. Diariamente nós temos exemplos de que parece mesmo que coisas que antes eram absurdas hoje são normais. Espero trocar ideias com você, pessoalmente. Um grande abraço.

Roberto Montagnana70_11502-1

ARE-Academia Ribeirão-pretana de Educação, Colégio Anchieta, EDUCAÇÃO, LITERATURA