LI E GOSTEI : BARACK OBAMA

BARRY: E ONDE O LEVARAM SEUS SONHOS

“O passado nunca está morto e enterrado —       ele não é nem mesmo passado”.

William Faulkner

Diante das alterações da fisionomia política na sociedade pós-industrial, que, segundo Gaudêncio Torquato, são a principal causa da mudança de paradigmas — a política deixa de ser missão para se tornar profissão, desvio que ocorre na esteira do desvanecimento das ideologias — que estão levando à atual crise norte-americana, não consigo deixar de pensar em Barry, apelido carinhoso de Barack Obama quando jovem, que pensava: “cresci sentindo-me bem com a solidão, o lugar mais seguro que conheci “, tendo em vista que o passado nunca está morto.
Hoje, com cinquenta anos, deve se sentir tremendamente só, nesse momento de tomada, ou não, de tão difíceis decisões, mesmo ao lado de Michelle e de suas filhas.
Acabo de conhecer um pouco de Barry, após leitura de 450 páginas do livro Barack Obama – A origem dos meus sonhos  — segundo o autor : “Qualquer que seja o rótulo que se dê a esse livro – autobiografia, memórias, história familiar ou algum outro -, o que procurei escrever foi um relato honesto de uma certa parte de minha vida” — um best-seller do The New York Times, onde o maior fenômeno da vida pública norte-americana desde John Kennedy, sem meias palavras, mostra como um adolescente revoltado se transforma na grande aposta de renovação na maior potência global. Obama, nascido da miscigenação de raças e culturas — mãe branca norte-americana (Ann) , pai negro africano (Barack)  e padrasto asiático (Lolo) —, ele é visto por muitos como um líder unificador, alguém que consegue transpor a barreira racial. Nessa obra, Barack, que é comparado a Kennedy por sua capacidade de animar os eleitores e oferecer uma nova liderança, revela a sua história e a de sua família, e a forma como ele vê e encara o mundo. Segundo o The New York Times Boook Review, essa autobiografia é “provocante… descreve, de forma persuasiva, o fenômeno de pertencer a dois mundos distintos e, consequentemente, não pertencer a nenhum”.
De acordo com o próprio Obama , no prefácio : o livro é “ a história de minha família, com a convicção de que meus esforços para compreendê-la poderiam mostrar, de alguma maneira, as fissuras entre as raças que caracterizaram a experiência norte-americana, bem como o estado fluído de identidade — a transposição de obstáculos através do tempo, o choque de culturas — que marca nossa vida moderna “.
São fortes certas partes desse livro: a vida em Jardins de Altgeld (Sul de Chicago) ; ou  quando ele, em NY, assiste ao filme brasileiro,  “Orfeu Negro”; ou quando Berry nota que não existe ninguém como ele no catálogo de Natal da loja Sears Roebuck,  e que Papai Noel era branco; ou quando , a partir da página 407, ouve histórias de seu avô africano, Onyango, sobre como era a vida tribal “antes de o homem branco chegar”;  ou quando descobre, em Harvard, que “ O estudo das leis pode ser decepcionante em alguns momentos, uma questão de aplicar regras estritas e procedimentos antigos a uma realidade pouco cooperativa; um tipo de contabilidade exaltada que serve para regulamentar os casos daqueles que têm  poder e que, com demasiada frequência, busca explicar aos que não têm a sabedoria e a justiça de sua condição”.
Penso que Obama, nos momentos de dificuldades — que foi para onde o levaram seus sonhos: pesadelos?  —, e sendo responsável por decisões que podem mudar o mundo, deve continuar pensando nas palavras de Lolo, seu padrasto :  “ É melhor ser forte. Se você não conseguir ser forte, seja inteligente e viva em paz com alguém que seja forte. Mas é sempre melhor você mesmo ser forte. Sempre”.
Enfim, ler esse livro é viajar com o jovem Obama pelo Havaí, Chicago, Quênia, conhecendo gente que, ao sonhar com ele, deu-lhe  grande parte dos votos que o levaram, junto com seus sonhos , à presidência dos Estados Unidos da América.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO70_11508-1

Li e gostei, LITERATURA