LI E GOSTEI : O JORNALISTA E O ASSASSINO

GINNISS VERSUS DONALD:  E A FÍSICA QUÂNTICA

“A linguagem é que torna humanas as pessoas e é o meio fundamental que temos para saber quem são os outros”

Janet Malcolm

Janet Malcolm, uma das mais importantes jornalistas americanas do século XX, escreveu oito livros baseados em reportagens longas publicadas na revista The New Yorker. Os temas foram vários: escritores como Anton Tchekhov, Gertrude Stein e Sylvia Plath ( a disputa pelo acesso aos arquivos de Freud)  ou processos judiciais que causaram comoção, como em O jornalista e o assassino, onde a autora narra a história de um médico, Jeffrey MacDonald, condenado pelo assassinato da esposa grávida ( Colette, de 26 anos)  e das duas filhas ( Kimberly e Kristen, de 5 e 2 anos e meio de idade) , em 1970, na Carolina do Norte, e que moveu uma ação inaudita contra um jornalista, Joe McGinniss, que escrevera um livro (Fatal Vision – 1989) sobre ele, baseado em entrevistas feitas durante o julgamento e na prisão. Colocando em pauta temas polêmicos quanto à ética do jornalismo e à liberdade de imprensa, o livro de Malcolm tornou-se um clássico instantâneo, 158 páginas que podem ser lidas “numa só tacada”.
Janet inicia seu livro O jornalista e o assassino  com uma afirmação polêmica : “Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável. Ele é um espécie de confidente, que se nutre da vaidade, da ignorância ou da solidão das pessoas. Tal como a viúva confiante, que acorda um belo dia e descobre que aquele rapaz encantador e todas as suas economias sumiram, o indivíduo que consente em ser tema de um escrito não ficcional aprende — quando o artigo ou livro aparece — a sua própria dura lição. Os jornalistas justificam a própria traição de várias maneiras, de acordo com o temperamento de cada um. Os mais pomposos falam de liberdade de expressão e do “direito do público a saber”; os menos talentosos falam sobre a Arte; os mais decentes murmuram algo sobre ganhar a vida” .
Ou seja, como conclui a autora, na página 37 :  “o indivíduo torna-se uma espécie de filho do escritor, considerando-o como uma mãe permissiva, que tudo aceita e tudo perdoa, e esperando que o livro seja escrito por ela. Evidentemente , o livro é escrito pelo pai severo, que percebe tudo e não perdoa nada”.
Destaco na obra a transcrição (páginas 51 até a conclusão na página  61) do interrogatório imposto ao jornalista McGinniss, pelo advogado de MacDonald,  Gary Bostwick, sobre a possível traição premeditada ( motivo da abertura do referido processo McGinniss versus Mcdonald), possivelmente fruto do “abismo existente entre a experiência do jornalista que está em campo falando com as pessoas e a sua experiência de estar sozinho em um cômodo, escrevendo”.
Ao final da leitura do livro, temos a mesma sensação da autora ao ler os autos do processo: “ Se começarmos admitindo a culpa dele (MacDonald) , leremos os documentos ( ou o livro) de um modo, e, de outro modo, se o supusermos inocente. O material ‘não fala por si mesmo’ ”.
Isso faz lembrar um dos princípios da Física Quântica: os elétrons, quando submetidos a medidas de suas propriedades, se utilizamos um detector de partículas, possuem esse comportamento ( de partículas) , e, se estivermos utilizando um detector de ondas, eles se comportarão como ondas.
E é o que podemos ler na sabedoria védica: “A razão de nós crescermos, tornarmo-nos velhos e morrermos é que nós vemos as outras crescerem, tornarem-se velhas e morrerem. O que você vê e em que acredita, você se torna”, ou seja, acontece na nossa vida tudo aquilo que acreditamos, consciente ou inconscientemente, ser inevitável ! — palavras finais do livro  Quem se atreve a ter certeza ?.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO70_11118-1

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