LI E GOSTEI : SANTA TERESA D’ÁVILA

A SANTA E O ECONOMISTA

 

“Na espiritualidade cristã, ela (Teresa D’Ávila)  equivale ao que significam Copérnico na astronomia e Leonardo da Vinci nas artes plásticas”

No Livro da Vida, autobiografia de Santa Teresa D’Ávila, ela diz, no capítulo 17 : “ Aqui me parece que vai bem, como se disse ao senhor, deixar-se de todo nos braços de Deus: se quiser levá-la ao céu, vá; se ao inferno, não tem problema, desde que vá com seu Bem; se a vida acabar totalmente, é isso que quer; se for para viver mil anos, isso também. Faça Sua Majestade como com uma coisa que lhe pertence, já não é sua, de si mesma, a alma. Foi dada totalmente ao Senhor. Despreocupe-se de tudo”.
É o mesmo que em outras palavras diz Eduardo Giannetti em seu livro  Ilusão da alma – biografia de uma ideia fixa, quando conclui no capítulo 36 : “…dia a dia se insinuava e crescia em mim a convicção de que o que sou e o que faço podem não ter rigorosamente nada a ver com o que me sinto ser ou imagino estar fazendo”.
No primeiro caso, a alma entregue ao comando de Deus ( Sua Majestade), e no segundo, o corpo entregue às reações químicas do cérebro — “uma massa borrachuda e gosmenta alojada em nossos crânios na qual desponta o mistério de uma vida interior”.
E então fica a pergunta que não quer calar:  Quem — ou o que — pilota quem ?
No primeiro livro,  Santa Teresa não consegue entender como ela, “uma coisa ruim, baixa, miserável pouco humilde e muito atrevida que ousou decidir escrever coisas tão elevadas”  pode gozar de contatos tão íntimos com o Cristo, o Espírito Santo e muitos outros Santos, afirmando ela que tudo acontece sem que nada tenha sido feito para merecer: “o que a pobre da alma com trabalho talvez de vinte anos de cansar o entendimento não conseguiu acumular, faz esse jardineiro celestial (Deus) em um instante”.
No segundo livro, Giannetti conta a história real de Joseph F.  que se transformou de cidadão exemplar em pedófilo, após sofrer um tumor cerebral que mexeu com suas preferências  sexuais e reduziu a pó a sua capacidade de autodomínio.
A angústia, diante do nosso pobre conhecimento, e impotência diante do futuro que nos espera,  é o mesmo de Tereza e de Giannetti: ambos, santa e economista vivem nas mãos de forças/energias que desconhecem, mas que sabem poder, a qualquer momento, mudar suas vidas.
Algo tem que ser feito. Não podemos ficar calados, encolhidos como um caramujo, entregues à consciência oca e resignada do meramente existir.
Então eu sonho, faço de conta que tenho o controle total dos meus sentidos e apetites, emociono-me com delícias e tormentos, lembranças e desejos, ideias e sensações, e me satisfaço em saber que em todas as coisas que nos cercam, uns veem matéria, outros veem espírito: só não podemos deixar de ser.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO70_11112-1

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