LI E GOSTEI : DELMIRO GOUVEIA

“(…) a vida resumida do homem é um capítulo instantâneo da vida de sua sociedade…”

Euclides da Cunha

Indico a leitura de  “Delmiro Gouveia – Era uma vez no sertão…” , escrito por Alberto Gonçalves, a todos aqueles que creem ser impossível uma mudança de nossa realidade, propiciando ao povo uma vida justa e digna.
Pois vejamos.
“As condições propiciadas por Delmiro Gouveia na fábrica da Pedra, Ceará, a partir de 1914, uma geração antes do início da Era Vargas e da invenção das leis trabalhistas, ainda hoje, no primeiro quartel do século XXI, estão longe de serem alcançadas pela maioria da população brasileira. Os operários trabalhavam, em pleno agreste do sertão nordestino, oito horas por dia, de segunda a sábado.Eles tinham descanso remunerado no domingo, recebiam semanalmente, dispunham de assistência médica e odontológica, estendidas aos familiares. As duas mil e quinhentas almas da colmeia —operários e dependentes — moravam gratuitamente ( ou melhor, com custo mínimo, simbólico) em casas da companhia, servidas por água encanada, esgoto, coleta regular de lixo, chafarizes, lavanderias coletivas e luz elétrica; tinham mercado com fartura e preços justos, controlados e regulados pela empresa; desfrutavam de um moderno clube, banda de música, carrossel, pista de patinação e cinema; contavam com jornal, posto de correio, telefone, telégrafo e 459 quilômetros de estradas regionais, todas construídas por Delmiro ( qualidade de vida ) ; usufruíam de oito escolas ( salas de  aula) que, durante o dia educavam as crianças e, à noite, alfabetizavam os  adultos; além de outros benefícios trabalhistas ( tinham até um décimo terceiro) , disponibilizados para trazer civilização ao sertão”.
O livro de Alberto Gonçalves conta em detalhes essa incrível história, até o momento em que, após a morte de Delmiro, em 1917,  a fábrica de linhas foi vendida, em 1929, para a multinacional têxtil Machine Cottons, sucumbindo  aos interesses espúrios ( pressão com redução de impostos de importação de linha inglesa,  aprovada pelo governo de Washington Luiz, quando era Ministro da Fazenda Getúlio Vargas, inviabilizando o produto nacional ) do grande capitalismo internacional. A antológica e insolente Linha da Pedra – Marca Estrella, nunca mais atrapalharia os gloriosos planos traçados: poder e riqueza para os industriais britânicos e a miséria de sempre para o sertão de um país periférico chamado Brasil.
Educador que sou, destaco a importância da  educação que era oferecida aos operários da Pedra —universalização da educação primária — sem custos e, de certa forma, a contragosto da maioria, e que poderia, um dia, proporcionar àqueles nordestinos as conquistas almejadas, pois os problemas nunca foram apenas a seca e a pobreza ( como continuam afirmando hoje nossos políticos) mas, sim, a ignorância, a falta de tecnologia, as benesses das elites, as vantagens difusas, as prebendas teimosamente enfrentadas e combatidas, os interesses capitalistas multinacionais.
Enfim, penso que seria interessante que nossos políticos — Presidente, Governadores, Senadores, Deputados, Prefeitos, Vereadores — principalmente os locais, lessem essa biografia que se propôs ( e consegue) fazer uma ponte entre o passado e o dia a dia inglório de milhares de pequenos empresários, que sempre lutaram para sobreviver em um ambiente extremamente promíscuo e desfavorável.
Se a biografia do empresário sertanejo Delmiro foi escrita para impressionar e emocionar, posso garantir que é impossível alguém ficar indiferente diante dos fatos narrados.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

 

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