LI E GOSTEI: 1822

70_10602-1DE 1822 A 2010: UM LÁPSO DE TEMPO.

“ Senso trágico não significa ser pessimista, mas apenas compreender a vida com todas as suas limitações”.

 

Gordon S. Wood

Acabo de ler 1822, de Laurentino Gomes, uma jornada cheia de aventuras pela História do Brasil, nos tempos da Independência.
Resultado de três anos de pesquisas, vinte e dois capítulos, trezentas e quarenta páginas com textos e ilustrações de fatos e personagens da época, a obra registra as ocorrências de um período de catorze anos, entre 1821, ano  do retorno da corte portuguesa de D. João VI a Lisboa, a 1834, ano da morte do Imperador D. Pedro I.
É um livro que busca explicar “como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro  a criar o Brasil, um país que tinha tudo para dar errado”, ou seja, como o Brasil conseguiu manter a integridade do seu território e se firmar como nação independente em 1822.
Como diz o autor, “A Independência resultou de uma notável combinação de sorte, acaso, improvisação, e , também, de sabedoria de algumas lideranças incumbidas de conduzir os destinos do país naquele momento de grandes sonhos e perigos”.
Coincidentemente, li esse livro no período das eleições e alguns pontos me pareceram bem atuais.
Auguste de Saint-Hilaire, , botânico francês, ao visitar o interior do nosso país, entre 1816 e 1820, constatou a indolência do povo: “Como no resto do Brasil, todo mundo trabalha o menos possível.  Eles só plantam o estritamente necessário para o sustento da família.  O Capitão-mor era obrigado a demarcar a quantidade de terra que cada um devia semear colocando de vez em quando alguns preguiçosos na cadeia, a fim de intimidar os outros”.  Ou seja, há duzentos anos o pessoal já esperava pela bolsa família (responsável direta pelo grande percentual de votos do PT no norte e nordeste)  do Lula.
Em outro momento, Thomas Lindley , ao falar dos comerciantes baianos, parece falar dos políticos atuais : “ Em seus negócios, prevalece a astúcia mesquinha e velhaca, principalmente quando efetuadas as transações com estrangeiros, aos quais pedem o dobro do preço que acabarão por aceitar por sua mercadoria, ao passo que procuram desvalorizar o que terão de obter em troca, utilizando-se de todos os artifícios ao seu alcance. Salvo algumas exceções, são pessoas inteiramente destituídas do sentimento de honra, não possuindo aquele senso geral de retidão que deve presidir toda e qualquer transação entre os homens”.
Para não me alongar, termino com considerações sobre o primeiro discurso da presidente eleita, Dilma Rousseff, e minha preocupação no sentido de que ela não conseguirá cumprir suas promessas, pois,  como já ocorria nos tempos de Pedro I : “ Se um ano após a Independência, até o Imperador era contra a escravidão, por que ela continuou a existir no Brasil por tanto tempo? A resposta mostra que nem sempre a vontade de quem está  no poder é suficiente para mudar o curso da História. Existem pressões que as circunstâncias exercem sobre os governantes e limitam suas ações e decisões”.
Tudo muito atual, tudo muito recente, pois duzentos anos são meses na História de um país, e pressinto que vamos ter que continuar contando com notáveis combinações de sorte, improvisação, acasos e também da sabedoria de algumas  lideranças ( do governo e da oposição, se é que as temos  )  responsáveis pela condução dos destinos do nosso país, nesse novo momento de grandes sonhos e muitos perigos, em que não contamos com sábios, não temos mulheres no poder,  inocentes e tristes ( muito pelo contrário) , e só contamos com um bando de políticos loucos por dinheiro e poder.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

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